Page 21 Analgesia em Obstetrícia
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Os efeitos depressores dos opióides sobre o recém-nascido parecem ser
mais pronunciados quando o período expulsivo ocorre dentro das 2 a 3 h de
administração do fármaco à mãe. Isto pode reflectir o tempo que é necessário
para o fármaco atingir no bebé uma concentração elevada.
A escolha do opióide a utilizar é baseada no tempo de início de acção, na
duração de acção e nos efeitos secundários associados ao fármaco.
Os opióides parentéricos podem ser administrados por bólus intermitentes
(subcutâneos, intramusculares ou endovenosos) ou através de uma PCA
(patient-controlled analgesia). A via e o horário de administração influenciam
a captação materna e a transferência placentária. As injecções subcutâneas
(s.c.) e intramusculares (i.m.) são fáceis mas dolorosas. A analgesia resultante
tem um início de acção demorado e uma qualidade e duração muito variáveis.
As injecções endovenosas oferecem um início de acção mais rápido com uma
qualidade mais uniforme, sendo portanto mais fácil titular os fármacos. A
administração através de PCA está associada a:
– maior alívio da dor com doses menores do fármaco;
– menor risco de depressão respiratória materna;
– menor transferência placentária;
– menos náuseas e/ou vómitos;
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– maior satisfação das parturientes .
A administração de doses mais pequenas mas mais frequentes produz uma
concentração plasmática do fármaco mais estável, o que leva a uma melhor
analgesia. Infelizmente, uma vez que a dor do TP é caracterizada por episódios
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intensos e intermitentes, a eficácia da PCA é limitada .
4.1.1. Morfina
A morfina é o alcalóide mais importante do ópio. A sua acção decorre de uma
ligação a receptores específicos situados no cérebro, espinhal medula e outros
tecidos. As doses usuais para a analgesia do TP variam entre os 2 a 5 mg i.v. (início
de acção em 3 a 5 min) ou os 5 a 10 mg i.m. (início de acção em 20 a 40 min). A
morfina é metabolizada pelo fígado em morfina-3-glucoronídeo e excretada pelos
rins. Este fármaco atravessa rapidamente a placenta e a barreira hematoencefálica
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do feto imaturo . A morfina materna diminui a variabilidade da frequência cardíaca
fetal, podendo causar bradicárdia fetal. A sua longa duração de acção (4 a 6 h)
contribui para um aumento da incidência de depressão respiratória no recém-
nascido, que é mais sensível a este fármaco do que à petidina, possivelmente devido
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a uma maior permeabilidade do seu cérebro à primeira . A possibilidade de
depressão respiratória grave no recém-nascido, bem como a excessiva sedação da
mãe, tornaram a morfina como um fármaco não popular no meio obstétrico.
4.1.2. Petidina
A petidina é, de longe, o opióide mais utilizado, em todo o mundo, como
analgésico no TP, devido ao seu rápido início de acção. Em termos de
analgesia, é qualitativamente similar à morfina (uma dose de 60 a 80 mg i.m.
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é aproximadamente equianalgésica a 10 mg de morfina) . A dose endovenosa
usual varia entre os 25 a 50 mg, que demora aproximadamente 5 a 10 min a
demostrar um efeito máximo. A petidina também pode ser dada intramuscular-
mente (50 a 100 mg, com cerca de 45 min de início de acção), na ausência de
uma cateterização endovenosa. Normalmente, é necessário repicar após 2 a 4 h.
Após uma dose de 50 mg endovenosos de petidina, este opióide surge na
corrente sanguínea do feto em 90 s, havendo um equilíbrio entre os compar-

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