Page 106 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
Capítulo 12
Exame Físico Músculo-Esquelético
Richard Fisher
Caso clínico 1 (membros) Decide que a fratura deve ser «reduzida» [colocada
no alinhamento correto], pelo que contacta o anestesista de
serviço e dá indicação ao bloco operatório para realizar uma
Foi-lhe pedido que examinasse um doente no serviço de manipulação fechada da fratura e aplicar uma tala de gesso
urgência do seu hospital. O doente é um homem de 46 anos na perna. O pessoal do bloco operatório avisa-o de que
que ficou preso entre uma plataforma de carga e o pára- estarão prontos dentro de 2 horas.
choques de um camião há várias horas. No membro inferior A manipulação parece resultar, pelo que aplica uma
esquerdo foi colocada uma tala de cartão provisória e, após tala de gesso em três lados do membro – deixando o lado
uma avaliação primária, parece não apresentar outros anterior aberto para deixar espaço para a tumefação. O
ferimentos significativos. Está consciente e fala consigo. doente sente-se confortável com a medicação analgésica oral ou
O exame inicial ao membro inferior esquerdo revela intramuscular e tudo parece correr bem. O estado vascular e
tumefação na “barriga” da perna com uma ligeira deformação neurológico do pé e tornozelo esquerdos parece melhorar na
angular e a pele contusa, mas sem soluções de continuidade. O sequência da redução, embora não se apresentem totalmente
exame ao joelho não revela efusão, mas não é possível testar a normais.
amplitude de movimento e os ligamentos devido a dor na No dia seguinte, mesmo antes de iniciar o serviço, a
“barriga” da perna. De igual modo, não é possível verificar a enfermeira telefona-lhe porque o doente está a sentir muitas
amplitude de movimento da anca. dores na “barriga” da perna esquerda. Afirma que
O doente consegue movimentar os dedos do pé e o administrou toda a medicação analgésica prescrita, mas que
tornozelo em ambas as direções. Afirma que consegue sentir o não está a ajudar. Desloca-se rapidamente para examinar o
seu toque nos dedos e no pé, mas que sente uma sensação de doente e descobre que a tala está intacta, mas que a perna
formigueiro, ligeiramente diferente da do lado direito. O pé esquerda está inchada e tensa abaixo do joelho. O doente não
esquerdo está ligeiramente mais frio e parece mais pálido. consegue esticar ou fletir os dedos dos pés. Consegue esticá-los
Você não consegue sentir o pulso pedioso nem o pulso tibial passivamente causando algum desconforto, mas, se tentar fleti-
posterior. O preenchimento capilar nos dedos dos pés parece los passivamente, o doente grita com dor. Existe uma
mais lento do que no lado direito, mas ainda assim intacto. diminuição difusa da sensação na zona do pé e da “barriga”
Tem disponível o raio X, pelo que solicita uma da perna e há ausência de sensação entre o primeiro e segundo
radiografia á perna esquerda. O raio X revela fraturas dedo, na superfície dorsal do pé. Ontem conseguia sentir o
transversais nas metáfises de ambos os ossos com alguma pulso pedioso e tibial posterior débeis, mas agora não os sente
angulação e uma deslocação mínima – mas pouca cominuição. de todo através da palpação. O preenchimento capilar