Page 295 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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As crianças expressam a dor da mesma forma É possível avaliar a intensidade da dor em
que os adultos? crianças apenas observando seu
Não. Devido a diferenças em desenvolvimento, a comportamento?
expressão da dor varia em diferentes faixas etárias Como cada criança tem estratégias individuais para
pediátricas. enfrentar a dor, o comportamento pode não ser
1) Os lactantes podem apresentar rigidez corporal, específico para avaliar os níveis da dor. Por
podem ter arqueamento, exibir expressão facial de exemplo, uma menina em idade escolar pode passar
dor (sobrancelhas abaixadas e franzidas, olhos horas brincando com um brinquedo. À primeira
fechados “apertados”, boca aberta e quadrada), vista, você pode achar que ela está feliz e sem dor.
chorar intensamente/muito alto, ficar inconsoláveis, Mas isso pode ser sua expressão comportamental
encolher os joelhos no tórax, apresentar para enfrentar a dor (distraindo sua atenção e
hipersensibilidade ou irritabilidade, comer mal ou tentando curtir uma atividade agradável). Embora o
não conseguir dormir. comportamento da criança possa ser útil, ele
2) Crianças pequenas podem ficar agressivas também pode ser enganador. Recomenda-se o uso
verbalmente, chorar intensamente, exibir de uma escala de classificação da dor e a busca de
comportamento regressivo ou de afastamento, indicadores fisiológicos da dor (mudanças na
exibir resistência física afastando o estímulo pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória).
doloroso assim que ele é aplicado, proteger a área As crianças conseguem dizer se e onde dói?
dolorosa do corpo ou não conseguir dormir. Estudos demonstraram que crianças com apenas
3) Crianças na idade pré-escolar/pequenas podem três anos de idade conseguem expressar e identificar
verbalizar a intensidade da dor, ver a dor como a dor com precisão, com a ajuda de escalas de
castigo, apresentar movimentos de braços ou avaliação da dor. As crianças conseguem apontar
pernas, tentar afastar o estímulo antes que ele seja para a área do corpo onde estão sentindo dor ou
aplicado, não cooperar, precisar de contenção física, fazer um desenho ilustrando sua percepção da dor.
se agarrar aos pais, enfermeiros ou outros, solicitar Uma escala adequada e amplamente utilizada é a
suporte emocional (por ex., abraços, beijos), escala facial de classificação da dor (recomendada
entender que pode haver ganhos secundários para crianças de 3 anos ou mais) (Fig. 3).
associados à dor, ou não conseguir dormir.
4) Crianças na idade escolar podem verbalizar a dor,
usar uma medida objetiva da dor, ser influenciadas
por crenças culturais, ter pesadelos relacionados à
dor, exibir comportamento de protelação (por ex.,
“espere um pouco”, ou “não estou pronto”), ter
rigidez muscular como punhos cerrados, nós dos
dedos brancos, dentes cerrados, membros
contraídos, rigidez corporal, olhos fechados ou testa
franzida, ter os mesmos comportamentos das
crianças em idade pré-escolar/pequenas, ou não
conseguir dormir.
5) Adolescentes podem localizar e verbalizar a dor,
negar a dor na presença de colegas, ter mudanças no
padrão de sono ou de apetite, ser influenciados por
crenças culturais, exibir tensão muscular e controle As crianças sempre avisam quando estão
do corpo, apresentar comportamento regressivo na sentindo dor?
presença da família, ou não conseguir dormir. Mesmo quando elas têm aptidões adequadas de
comunicação, há algumas razões para as crianças
não avisarem da dor. As crianças podem ter medo