Page 64 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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com o seu efeito. Após a fase inicial, com o alívio como a tuberculose, podem resultar numa grande
dos sintomas estabilizado, deve ser mantida uma quantidade de sintomas, com incapacidade grave
reavaliação regular, uma vez que é de esperar maior provocada pela dor, dispneia, náuseas e vómitos,
deterioração provocada pela doença subjacente. Os obstipação ou confusão. A maior parte dos doentes
doentes oncológicos ou com VIH/SIDA que com doença avançada e esperança de vida limitada
recebem cuidados paliativos devem ser examinados sofrem de debilidade e cansaço (fadiga) causados
pelo profissional de saúde semanalmente, ou no pela doença ou pelo próprio tratamento. Lidar com
mínimo mensalmente, se a situação estiver o diagnóstico e prognóstico pode causar angústia
estabilizada. As avaliações de acompanhamento espiritual e psicológica, ansiedade e depressão. Estes
pode ser curtas mas devem incluir breves listas de sintomas podem ser tratados e, com o alívio dos
verificação de sintomas, a fim de controlar se sintomas, a qualidade de vida é melhorada.
apareceram novos sintomas. Deve ser iniciado o A secção seguinte apresenta um panorama da gestão
tratamento dos novos sintomas e problemas. O dos sintomas mais importantes e frequentes
POS pode ser usado regularmente para avaliar o (Quadro 1). Poderá encontrar informação mais
estado do doente e as terapêuticas em curso detalhada acerca da avaliação e do tratamento dos
também devem ser reavaliadas de forma regular, a sintomas e acerca de outras áreas dos cuidados
fim de verificar se continuam indicadas ou se é paliativos no guia clínico dos cuidados de apoio e
recomendável uma redução cuidadosa da dose ou paliativos para o VIH/SIDA na África subsaariana e
mesmo a supressão do tratamento. No entanto, no módulo Integrated Management of Adult Illnesses
deve notar-se que, frequentemente, os Palliative Care (Gestão Integrada das Doenças nos
medicamentos para o alívio da dor, da dispneia e de Adultos – Cuidados Paliativos) da OMS e em
outros sintomas devem ser mantidos até ao documentos relacionados.
momento da morte. O tratamento sintomático pode O controlo da dor nos cuidados paliativos segue as
ser interrompido se for possível o tratamento de orientações de controlo da dor no cancro, estando
uma causa subjacente dos sintomas (por exemplo, no centro desta abordagem a medicação analgésica
uma infeção oportunista em doentes com de acordo com os princípios da Organização
VIH/SIDA). Mundial de Saúde. Os opióides, como a morfina
Na sequência da morte do doente, é útil proceder a oral, continuam a constituir a base do controlo da
uma avaliação da eficácia global dos cuidados dor nos cuidados paliativos em contextos de baixos
paliativos prestados para efeitos de garantia da recursos, uma vez que são relativamente baratos e
qualidade. A forma mais fácil consiste em solicitar porque não é possível prestar cuidados paliativos
aos prestadores de cuidados e aos familiares uma eficazes sem a disponibilidade de um opióide
avaliação global dos cuidados prestados ao doente potente. O Capítulo 6 apresenta informações
algumas semanas ou meses após a sua morte, detalhadas sobre esta questão.
usando uma escala de categorias simples (satisfação
geral com os cuidados: muito insatisfeito, O tratamento de outros sintomas é semelhante
insatisfeito, nem satisfeito nem insatisfeito, satisfeito ao controlo da dor?
ou muito satisfeito).
Embora não exista qualquer ferramenta semelhante
Alívio dos sintomas à escala analgésica da OMS para ajudar a tratar
outros sintomas, muitos dos princípios aplicados ao
Porque é tão importante o alívio dos sintomas? controlo da dor podem também ser aplicados a
outros sintomas. Por exemplo: inverter o que é
O controlo da dor e de outros sintomas constitui possível inverter e tratar a causa subjacente, sem
uma parte essencial dos cuidados paliativos. Com a aumentar os sintomas; recorrer a intervenções com
progressão da doença subjacente, a maioria dos substâncias não farmacológicas – conjunta ou
doentes sofre de sintomas físicos e psicológicos. O isoladamente, conforme apropriado; utilizar
cancro, o VIH/SIDA e outras infeções crónicas, medicamentos específicos dos tipos de sintomas; e
tratar o sofrimento psicossocial associado. A