Page 13 Volume 10, Número 1, 2002
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Dor (2002) 10
de saber qual o tipo de intervenção mais adequado, intervenção cognitivo-comportamental similar com dez
uma vez que as intervenções têm sido realizadas com sessões. Nestas, enfatizava-se o coping com a dor, o
grupos de dor bastante heterogéneos. treino de técnicas específicas para o controlo da dor e
A maior certeza que podemos ter no campo da dor a modificação de pensamentos que exacerbam a dor.
crónica é da sua complexidade, definida pela combi- Os pacientes, com idades entre os 27 e os 80 anos,
nação de mecanismos periféricos, centrais e psicológi- foram aleatoriamente designados para o grupo experi-
cos (Melzach e Wall, 1982). Um paciente que vive com mental e para o grupo de controlo (lista de espera). Os
dor crónica não só experiencia a sensação de dor, pacientes no grupo experimental conseguiam lidar
mas também vive com alterações significativas no seu mais eficazmente com a dor, relatavam uma menor
dia a dia, tais como limitação da sua actividade, humor interferência desta na sua vida quotidiana, bem como
ansioso ou depressivo, pouca energia, distúrbios de uma diminuição no consumo de medicação.
sono, problemas familiares, bem como isolamento so- Numa tentativa de examinar a eficácia diferencial
cial (Keefe, Gil e Rose, 1986). Em casos extremos, os de vários tipos de técnicas, autores como Linton e
pacientes podem estar de tal forma absorvidos na Gotestam (1984) compararam o treino de relaxamen-
procura constante de alívio para as suas dores que to, relaxamento mais condicionamento operante e
percorrem variados especialistas e vão a múltiplas uma condição de controlo (lista de espera). O grupo
consultas de urgência, esperando que face a novas que foi submetido ao treino de relaxamento recebeu
avaliações se encontrem novas formas de intervenção. a intervenção em ambulatório, enquanto o grupo
Desta forma, muitas vezes são submetidos a interven- submetido ao treino de relaxamento conjuntamente
ções cirúrgicas desnecessárias ou tornam-se depen- com o condicionamento operante recebeu a inter-
dentes de analgésicos. venção diariamente. O condicionamento operante
Vamos agora rever algumas das intervenções efec- envolvia o encorajamento de um tipo de medicação
tuadas em pacientes que apresentam diferentes tipos contingente ao tempo e não à dor, um aumento da
de diagnóstico com o sintoma de dor crónica. Inicial- actividade física, uma minimização dos comporta-
mente, serão referidas as intervenções nas quais a mentos de doente e um aumento de comportamen-
localização e a etiologia da dor não são especificadas. tos de saúde. Os resultados indicaram que os paci-
Num segundo foco, examinaremos o caso da dor entes do grupo de intervenção melhoraram
lombar, referindo estudos que especificam o lugar da significativamente em relação ao grupo de pessoas
dor mas não a sua etiologia, aqui apresentaremos um que estavam na lista de espera. Estas mudanças
estudo português. De seguida, vamos considerar as observaram-se em relação à redução da medicação,
intervenções realizadas no caso de “dor idiopática” na medidas de actividade física e de depressão. Quan-
qual a etiologia; se presume ser psicológica. Por últi- to à eficácia diferencial dos dois tipos de interven-
mo, vamos abordar, brevemente, a intervenção farma- ção, verificou-se que os pacientes que receberam a
cológica uma vez que esta poderá actuar de uma intervenção constituída por treino de relaxamento e
forma sinergética com as diversas intervenções psico- condicionamento operante mais facilmente reduziam
lógicas. a toma de medicação do que os pacientes que
apenas foram submetidos ao treino de relaxamento.
Os resultados sugerem que o treino de relaxamento
Dor crónica heterogénea
era suficiente para reduzir os níveis de dor, mas
Muitos estudos examinaram a eficácia de determi- para aumentar os níveis de actividade e reduzir a
nadas intervenções psicológicas, tais como a terapia medicação um programa de intervenção com condi-
cognitiva-comportamental, terapia comportamental- cionamento operante é mais vantajoso. Uma das
operante e hipnose em casos de dor crónica heterogé- críticas que não podemos deixar de fazer a este
nea. Nestes estudos foram agrupados pacientes com estudo é a de que as condições de administração
uma grande variedade de queixas (dor nas costas, do tratamento nos dois grupos de intervenção não
nas articulações, na face, com artrite, etc.). Muitos eram homogéneas, no primeiro grupo de intervenção
compararam intervenções cognitivo-comportamentais com um componente de relaxamento em ambulatório
com grupos de controlo – lista de espera. Por exem- numa base semanal, ao passo que no segundo
plo, Philips (1987), utilizando uma amostra de doentes grupo a intervenção foi realizada diariamente. A
em ambulatório, os quais submeteu a uma intervenção constatação destas diferenças faz com que os resul-
cognitivo-comportamental, comparou os resultados tados devam ser encarados com grande cautela,
com um grupo de controlo (lista de espera). O trata- considerando-se crucial a realização de uma inves-
mento cognitivo-comportamental possuía nove sessões tigação que responda a esta crítica numa tentativa
que envolviam treino de relaxamento, estabelecimento de ultrapassar as limitações deste estudo.
de objectivos, redução da medicação, treino de estra- Outras investigações, com grupos de pacientes
tégias de coping, aumento gradual da actividade e apresentando dor heterogénea, examinaram o im-
lidar com emoções como a ansiedade e a depressão. pacto de uma intervenção cognitivo-comportamental
O estudo revelou melhoras clínicas significativas em em contextos multidisciplinares. Num estudo planea-
83% dos participantes. Mais especificamente, os paci- do de modo a que se pudesse avaliar a diferença
entes demonstraram uma diminuição significativa na entre uma intervenção em ambulatório e internamen-
DOR dimensão afectiva da dor, na depressão e nos compor- to, Peters e Large (1990) seleccionaram aleatoria-
mente os pacientes de modo a que pertencessem a
tamentos de evitamento. Num estudo semelhante, Pu-
12 der (1988) avaliou a eficácia de um programa de uma de três condições: a) programa de intervenção
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