Page 14 Volume 10, Número 1, 2002
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V. Araújo-Soares, T. McIntyre, M. Figueiredo: Intervenção Psicológica: Possibilidades de Colaboração entre Distintos Campos Científicos na Dor Crónica
multidisciplinar com a duração de 4 semanas para intervenção psicológica. O programa standard con-
doentes internados; b) programa de intervenção mul- sistia em educação acerca da medicação, recondici-
tidisciplinar de 9 semanas para pacientes em ambu- onamento físico, envolvimento familiar e apoio. O
latório e c) grupo de controlo. O primeiro programa componente psicológico consistia no treino de relaxa-
de intervenção possuía uma orientação cognitivo- mento e de estratégias de coping, com reforços
comportamental e incluía treino de relaxamento, re- contingentes à execução de exercícios físicos. Os
estruturação cognitiva, distracção, aumento do exer- resultados não revelaram qualquer diferença signifi-
cício físico, terapia individual, gestão da medicação cativa entre os dois tipos de intervenção. De facto, os
e reforço de comportamentos saudáveis. O progra- dois programas eram muito similares, uma vez que o
ma de intervenção com doentes de ambulatório foi programa de reabilitação já incluía algumas caracte-
descrito como educacional, apesar de terem sido rísticas psicológicas. Parece ter sido esta semelhan-
debatidos conselhos para o aumento da actividade ça a responsável pela ausência de diferenças entre
física, o estabelecimento de objectivos, gestão da estas duas condições.
medicação e do stress e treino de relaxamento. Os Num outro estudo efectuado com os mesmos ob-
resultados indicaram que os pacientes que partici- jectivos, Nicholas, Wilson e Goyen (1992) distribuí-
param quer num quer noutro grupo de intervenção ram aleatoriamente 20 pacientes por duas condi-
apresentavam níveis mais elevados de bem-estar ções: cinco sessões de terapia comportamental e
psicológico, menos comportamentos de dor, menos cognitiva com um componente educacional no qual
limitações relacionadas com a saúde e menor inten- a inactividade, a depressão e a toma de medicação
sidade de dor depois da realização de exercício numa base horária era discutida (C-C), acrescendo-
físico, quando comparados com o grupo de contro- se ainda uma dimensão de fisioterapia. Havia ainda
lo. Uma das críticas que pode ser efectuada a este um componente de intervenção psicológica com trei-
estudo reside no facto de as condições aparente- no de relaxamento, reestruturação cognitiva e au-
mente não estarem bem controladas, de modo que mento gradual da actividade física. A segunda con-
não sabemos a que se devem na realidade os dição possuía um igual número de sessões não
efeitos dos resultados encontrados. directivas acrescida de fisioterapia. Contrastando
Em geral, as investigações acima apresentadas com os resultados de Altmaier, et al. (1992), os
sugerem que as intervenções com orientação cogni- resultados deste estudo revelaram que, apesar de
tivo-comportamental são mais benéficas do que con- não se observarem diferenças na intensidade da dor
dições de controlo (lista de espera). As provas obti- entre as duas condições, os pacientes que fizeram
das da avaliação destes estudos indicam ainda que parte do primeiro grupo melhoraram significativa-
uma intervenção multidisciplinar e mais compreensi- mente em medidas de limitação funcional (cotadas
va a nível da dor poderá levar à obtenção de melho- por outros significativos), no uso de estratégias de
res resultados. Contudo, este grupo de estudos apre- coping activas e da medicação, bem como a nível
senta algumas limitações como o facto de não de crenças de auto-eficácia. Em relação às condi-
descrever adequadamente as suas amostras, verifi- ções experimentais deste estudo, verifica-se que
cando-se que estas são bastante heterogéneas, não estas parecem estar mais eficazmente controladas
existindo um controlo das condições de administra- do que as anteriores, o que nos permite olhar para
ção da intervenção, o que limita a possibilidade de estes resultados de uma forma mais segura.
generalização dos resultados obtidos e dificulta a Outros autores como Turner, Clancy, McQuade e
sua interpretação. Cardenas (1990) também revelaram maiores benefíci-
os da inclusão de intervenções psicológicas conjun-
tamente com a prática de exercício para o tratamento
Lombalgia crónica
da dor crónica lombar. Neste estudo, 96 pacientes
Os estudos com pacientes de dor crónica lombar com dor crónica lombar foram aleatoriamente distri-
representam uma tentativa de delimitar o problema em buídos por quatro grupos distintos: a) terapia compor-
termos da localização e especificação da dor sentida. tamental mais exercício; b) apenas terapia comporta-
No entanto, estes estudos são similares aos referidos mental; c) apenas exercício, e d) um grupo de
anteriormente, uma vez que também estes não defi- controlo que permanecia em lista de espera. Os
nem a etiologia fisiológica da dor crónica. Usualmente grupos de terapia comportamental incluíam os paci-
a dor lombar pode apresentar uma grande variedade entes e os seus cônjuges. A duração foi de duas
de etiologias: patologia discal, osteoartrite, osteo- horas por semana em 8 semanas, sendo a interven-
porose, traumática, tensão muscular/espasmos. Contu- ção focada em estratégias de comunicação de modo
do, estas causas são agrupadas conjuntamente e a que os comportamentos de saúde fossem reforça-
tratadas nas mesmas análises. dos em detrimento da apresentação de comporta-
Autores como Altmaier, Lehmann, Russel, Weinstein mentos de doente e de dor. Os resultados indicaram
e Kao (1992) seleccionaram aleatoriamente 45 paci- que, apesar de se terem observado resultados posi-
entes com dor crónica lombar. A investigação efectu- tivos em todos os grupos de intervenção, os pacien-
ada por estes autores possuía duas condições: pro- tes que participaram na primeira condição (terapia
grama de reabilitação standard que funcionava em comportamental mais exercício) apresentavam melho-
regime de internamento e no qual participaram 45 res resultados na cotação da intensidade da dor quer DOR
sujeitos; e outro grupo de sujeitos foi submetido ao pelo próprio quer pelo cônjuge, bem como decrésci-
programa de intervenção standard acrescido de uma mos a nível da incapacidade física e psicológica, 13

