Page 31 Volume 10, Número 1, 2002
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Dor (2002) 10
Dor (2002) 10

Dor Crónica: Uso de Técnicas


de Relaxamento no seu Controle



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F. Magalhães , S. Ramos 2






Resumo
Os autores fazem uma pequena revisão sobre a dor crónica, as suas repercussões e
necessidade de uma abordagem terapêutica multifacetada. Neste contexto descrevem
as principais técnicas científicas de relaxamento – relaxamento muscular progressivo
de Jacobson e treino autogéneo de Schultz. No final são sucintamente revistas outras
técnicas, como a hipnose, a visualização, a acupunctura, o yoga e a meditação.
Palavras chave: Dor crónica. Treino autogéneo. Relaxamento muscular progressivo.
Outras formas de relaxamento.









Introdução investigadores nesta área concordam que factores
psicológicos têm um papel crucial no desenvolvimen-
De acordo com a Associação Internacional para o
estudo da dor (IASP) a dor é “uma sensação desagra- to, perpetuação ou amplificação da dor crónica.
dável e uma experiência emocional que se associa a As dores que nunca desaparecem completamente
potencial lesão tecidual, ou descrita em termos de tal após uma doença ou lesão tecidual (p. ex. após uma
lesão” (IASP, 1986). Esta definição implica que a dor é cirurgia ou acidente), as cefaleias de tensão e outras
muito mais que um mero fenómeno sensorial, e chama que aparecem sem explicação aparente e que persis-
a atenção para os aspectos psicológicos da experiên- tem ou recorrem, por exemplo nas doenças ditas
cia da dor. Estes podem ter um papel major no início, funcionais, são extremamente resistentes ao tratamen-
gravidade, exacerbação ou manutenção da dor. As- to medicamentoso e geralmente provocam prolongado
sim, a dor pode ser inserida, de acordo com o Diag- sofrimento e disfuncionamento em várias áreas (famili-
nostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM- ar, social, laboral). Quando as dores teimam em persis-
IV), nos diagnósticos “Perturbações Somatoformes”, tir indefinidamente, a natureza das sensações por elas
“Perturbações de dor associada a factores psicológi- provocadas modifica-se com o decorrer do tempo e o
cos” ou “Perturbação de dor associada quer a factores doente desanima, deprime e pode tornar-se hipocon-
psicológicos quer a condições médicas em geral”. dríaco.
Cada cultura interpreta, suporta e reage à dor de Frequentemente, ao mesmo tempo que o médico
forma diferente. Estes aspectos assumem particular sente que não consegue resolver a situação eficaz-
interesse quando a dor se torna crónica. A maioria dos mente, o rol de queixas ou a intensidade da dor
autores define dor crónica como uma dor que persiste aumenta e o doente vai solicitando cada vez mais
para além dos seis meses. A nocicepção continuada ajuda. Por vezes, e no limite, a relação médico-doente
ou alterações induzidas na nocicepção no sistema deteriora-se devido a frustração bilateral da não reso-
nervoso central podem contribuir significativamente lução da situação. As abordagens por equipas multi-
para a persistência da dor. Mais ainda, a maioria dos disciplinares, que incluem psiquiatras, psicólogos, fisi-
atras, enfermeiros e assistentes sociais conseguem,
geralmente, ajudar com mais sucesso estes doentes.
Existem múltiplas formas de controle ou alívio da dor
1 Assistente hospitalar de Psiquiatria no Hospital propriamente dita. Podemos referir o uso de anti-
Magalhães Lemos inflamatórios não esteróides, corticoesteróides, anal-
DOR Membro da CLINIPSIQUE gésicos e opiáceos, todos eles tão usados (e por
Clínica de Dor do Porto
vezes abusados) na prática clínica diária. A fisioterapia
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Interna complementar de Psiquiatria
30 Hospital Magalhães Lemos (incluindo aplicação de calor local, estimulação eléctri-
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