Page 33 Volume 10, Número 1, 2002
P. 33
Dor (2002) 10
cerca de meia hora, mas com a continuação os foi despertado por volta de 1970, quando cientistas
pacientes aprendem a relaxar mais rápida e eficaz- chineses demonstraram a sua aplicabilidade em cirur-
mente. Se a dor é sentida durante a contracção, essa gias como forma de controlar a dor. A acupunctura tem
deve ser feita de forma mais suave. Revê-se um tido resultados promissores no tratamento de alguns
músculo em cada sessão, até se atingir a totalidade estados de dor crónica tais como: dor lombar, cefalei-
do corpo. Esta técnica de relaxamento pode ser as e dor abdominal. No entanto, apesar desta técnica
praticada pelo paciente em várias situações diárias ser bastante eficaz no alívio dos sintomas a curto
de forma a diminuir a tensão a elas associada. Exis- prazo, a sua eficácia a longo prazo não está ainda
tem múltiplas variantes desta técnica. Entre nós é comprovada.
frequente associar uma segunda parte ao relaxamen- A Yoga, remontando pelo menos ao século III a.C.
to físico. Consiste em associar uma fase em que se e tendo fins religiosos, é muitas vezes usada, no
imagina uma imagem de paz, isto é, uma imagem Ocidente, como uma espécie de ginástica. Permite
neutra e pacificante (p. ex. imaginar-se numa praia também uma tomada de consciência do corpo, espe-
tranquila) – ver visualização. cialmente a “hatha yoga”, a mais divulgada entre nós.
Este método é extremamente demorado – a apren- Combina exercícios respiratórios com a manutenção
dizagem pode demorar mais de um ano – e exige de determinadas posturas. Cada uma destas terá um
grande disciplina e empenho para uma total tomada efeito específico sobre determinada parte do corpo
de consciência das sensações corporais e seu contro- ou órgão.
le. Todavia completado o treino é muito eficaz e pode A Visualização ou Imaginário ou Simbolis-
ser realizado em quaisquer local e posição. mo Controlado das imagens tem por objectivo
O Biofeedback. Através do uso de aparelhos de dirigir a atenção para o mundo interior. O paciente
medida é possível quantificar o ritmo cardíaco, o deve ficar numa posição confortável, a voz do tera-
pulso, a temperatura corporal, a tensão muscular, e peuta deve ser clara, mas suave e relaxada. Após um
a diferença de potenciais eléctricos entre a palma e período inicial de concentração no relaxamento físico,
o dorso da mão e até as ondas cerebrais. Se um com referência especial ao controlo da respiração e
paciente está a aprender relaxamento poderá pron- ao relaxamento durante a expiração, o paciente é
tamente saber a sua evolução na aprendizagem, ter encorajado a imaginar uma cena agradável. Esta
maior conhecimento e controle de si. Tem sido usa- cena deve ser descrita pormenorizadamente para
do, entre outros, em doentes cardíacos, hipertensos encorajar a imaginação do paciente a desenvolvê-la
e com dor crónica na enxaqueca. Usa-se frequente- e criar assim uma realidade pessoal. Os aspectos
mente associado ao relaxamento de Jacobson. positivos da cena são utilizados para reforçar o rela-
xamento através do processo mental, em vez de
físico. O paciente pode ser sucessivamente conduzi-
do de uma imagem para outra, cada uma com a sua
Métodos próximos das técnicas de
sensação física relaxante. Esta técnica já tem sido
relaxamento
usada em doentes com doenças psicossomáticas, e
As técnicas referenciadas até agora fundamentam- para alívio da dor nomeadamente em doentes onco-
se em investigações científicas e encontram base e lógicos.
explicação nos conhecimentos das ciências. Existem A Meditação, tão antiga quanto a humanidade,
muitas outras formas de relaxamento: umas variantes presente em cultos de inúmeras religiões, é utilizada
das referidas, outras tradicionais, outras combinações nos nossos dias também como método de relaxamento
das duas anteriores. Algumas das mais significativas contra o stress e como forma de procurar um equilíbrio
são a Hipnose, a Acupunctura, a Yoga, a Visualização mental perdido com o ritmo da vida moderna. Essen-
e a Meditação. cialmente e de forma muito sucinta consiste em volta-
A Hipnose pode alterar o componente afectivo da se para dentro, abstraindo-se do mundo exterior, adop-
experiência da dor sendo uma ajuda útil para reforçar tando para isso uma determinada posição e fixa-se a
as manipulações cognitivas e comportamentais. atenção num som, numa imagem, na respiração ou na
Quando a dor crónica tem uma etiologia orgânica consciência do próprio corpo.
evidente, tal como neoplasias, a hipnose é dirigida à
redução da dor, embora se deva ter em conta outros
factores com importância nas experiências do paci- Comentários finais
ente. Aqui, a hipnose pode contribuir eficazmente
para ajudar o paciente a lidar com os sintomas. A dor crónica é muitas vezes um sintoma menos-
Contudo, na dor crónica em que não existem evidên- prezado que os clínicos têm, por vezes, dificuldade
cias de lesão física, a hipnose tem menos probabili- em lidar. A abordagem mais eficaz é a multicêntrica,
dades de êxito na redução da dor. A hipnose, no atendendo não apenas ao factor causal da doença
controlo da dor, pode ser usada com três objectivos: mas ao doente enquanto pessoa. Os tratamentos são,
para sugestão directa de redução da dor, para altera- regra geral, muito prolongados e fazem uso de técni-
ção da experiência da dor ou para afastar a atenção cas, não comummente usadas na prática médica.
da dor. Está demonstrado que muitas destas técnicas incluin-
DOR tempo pelas comunidades do Oriente; no entanto, o do os relaxamentos, são eficazes e ajudam conside-
A Acupunctura tem sido utilizada desde há longo
ravelmente estes doentes na melhoria da sua qualida-
32 interesse da população ocidental por esta técnica só de de vida.

