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Dor (2002) 10
1999). Ao décimo quinto dia os animais foram aneste- Discussão
siados com hidrato de cloral e as suas bexigas instila-
das durante 30 min com 0,5 ml de RTX 10 nM (ratos Os nossos resultados demonstram que a inflamação
CYP + 10nM RTX), ou 0,5 ml do veículo do RTX, etanol crónica da bexiga induz hiperactividade vesical e um
a 10% em soro fisiológico (ratos CYP + VEH). No dia aumento da expressão de c-fos a nível da medula
espinhal. Estas alterações são revertidas pela aplicação
seguinte foram efectuados cistometrogramas sob anes- intravesical de resiniferatoxina.
tesia com uretano (1,2 mg/kg, s.c.). A bexiga foi expos-
ta através de uma incisão mediana abdominal infraum- A resiniferatoxina é um extracto do látex de uma
bilical, tendo-se inserido uma agulha de calibre 21 na planta existente no Norte de África, a Euforbia resinife-
cúpula vesical. Após um período de estabilização foi ra, que partilha com a capsaicina um grupo homovaní-
lico idêntico. Isso explica a afinidade do RTX para o
infundido soro fisiológico à temperatura ambiente (6 ml/ receptor vanilóide (VR1), cuja expressão periférica se
h), durante duas horas com a uretra aberta. O volume
infundido ao qual ocorreu uma micção foi considerado encontra praticamente restrita aos aferentes primários
como capacidade cistométrica máxima. Ratos intactos de tipo C (Szallazi e Blomberg, 1999; Avelino, et al.,
foram usados como controlos. 2002). O RTX é cerca de dez mil vezes mais potente
que a capsaicina para se ligar ao receptor vanilóide e
No final dos estudos cistométricos todos os animais
foram perfundidos com paraformaldeído a 4%. Os seg- induzir um estado de inactivação dos aferentes primá-
mentos espinhais L6 foram removidos e seccionados a rios tipo C, também conhecido por dessensibilização,
40 mm no micrótomo de congelação, sendo cada ter- durante o qual a transmissão dos impulsos sensitivos
ceiro corte imunorreagido contra a proteína Fos usando
o método ABC-HRP. As células positivas foram conta-
das em 10 cortes por animal nas lâminas I, lâminas II-
IV, substância cinzenta intermédio-lateral (ILG – inter-
mediolateral gray matter) e comissura dorsal (DCM –
dorsal commissure).
Resultados
A capacidade cistométrica máxima média observada
foi de 0,48 ± 0,22 ml nos animais do grupo de controlo,
0,26 ± 0,08 ml no grupo CYP + VEH e 0,54 ± 0,14 no
grupo CYP + RTX 10 nM (Fig. 1).
A expressão de c-fos na medula espinhal sagrada
dos animais de controlo era ligeira, estando as células
imunorreactivas localizadas bilateralmente na lâmina I e
ILG, bem como na DCM. Em contraste, nos animais do
grupo no grupo CYP + VEH, a expressão do c-fos era
bastante intensa nestas três zonas. Nos animais do
grupo CYP + RTX 10 nM, a expressão de c-fos nas
lâminas I, ILG e DCM era semelhante à dos animais de Figura 2. Células reactivas para c-fos nas lâminas I, II-
controlo (Fig. 2). A expressão de c-fos nas lâminas II-IV IV, DCM e ILG do segmento espinhal L6 em animais
era bilateral mas muito ligeira, não havendo diferenças controlo (A), tratados com CYP + VEH (B) ou CYP +
evidentes entre os três grupos (Fig. 2). RTX (C).
Os valores médios e respectivos desvios-padrão do
número de células contadas nos três grupos experi-
mentais, em cada uma das zonas espinhais, encontra-
se exposto no gráfico de barras da figura 3.


















Figura 3. Gráfico demonstrativo da expressão da
DOR Figura 1. Médias das capacidades cistométricas proteína Fos na medula espinhal do rato a nível de L6
máximas (CCM) dos animais controlo, tratados com
em animais controlo, tratados com CYP + VEH ou
CYP + VEH ou CYP + RTX. CYP + RTX.
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