Page 26 Volume 13 - N.2 - 2005
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J. Cortez, et al.: Angor e Neuroestimulação Medular
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na angina refractária . De então para cá, um
grande número de trabalhos centrou-se no estu- Quadro 1. As boas práticas em Neuroestimulação
do dos mecanismos íntimos do miocárdio sujei- Formação médica (aos médicos referenciadores):
to a neuroestimulação medular. O benefício ob- – Quem referenciar
servado nos doentes com angina refractária – Quem não referenciar
seria devido a uma interacção de: redução da – O que dizer ao doente
dor; redução do tónus simpático; diminuição das – Como seguir os doentes na comunidade
– Como lidar com complicações no seio dos cuidados
necessidades de oxigénio pelo miocárdio; e re- de saúde primários
distribuição e melhoria da microcirculação coro- Promoção de boas práticas envolvendo:
nária – resultando globalmente numa diminuição – Selecção de doentes
da isquémia do miocárdio . – Educação dos doentes
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Trabalhos bem desenhados demonstraram – Actuação segura com mínima morbilidade
que a neuroestimulação promove alívio sintomá- – Optimização de resultados
– Continuação do acompanhamento aos doentes
tico da dor com diminuição da classe de angina – Registo de dados, auditorias e investigação clínica
da Canadian Cardiovascular Society em 70 a Obtenção de decisão informada.
80% dos doentes, aumento da actividade diária Criação de ambiente favorável ao desenvolvimento da
básica e de índole social, diminuição do consu- neuroestimulação.
mo de nitroglicerina e de 75% dos dias de inter-
7,8
namento hospitalar . A dor na crise de angina British Pain Society, 2005
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instável não se alterou , nem se registou qual-
quer influência negativa na mortalidade ou mor-
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bilidade, relativamente a grupos de controle .
Num estudo comparativo com doentes submeti- ma abreviada), questionário de angina de
dos a cirurgia de bypass coronário, em 104 do- Seattle e genograma;
entes (NEM – 53; CBC – 51), verificou-se dimi- 2. apresentação do caso pelos elementos que
o
nuição altamente significativa do número de participaram no 1. tempo aos restantes
crises de angor e do consumo de nitroglicerina, membros da equipa, para avaliação dos
sem qualquer diferença entre grupos. O grupo critérios de inclusão ou de exclusão;
de CBC evidenciou melhoria da perfusão mio- 3) observação conjunta para colheita de histó-
cárdica, que não foi observada no grupo de ria clínica e decisão terapêutica. O doente
NEM. A morbilidade cerebrovascular foi menor é informado sobre os vários aspectos rele-
no grupo de NEM. A qualidade de vida melhorou vantes da terapêutica proposta com recur-
significativamente nos dois grupos aos 6 meses, so a texto escrito de suporte e a obtenção
a
mantendo-se inalterada após 3 anos. Não hou- de consentimento informado é obtida na 2.
ve diferença na mortalidade nos dois grupos consulta, após esclarecimento de dúvidas
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aos 3 e 5 anos . residuais relativas à terapêutica proposta.
As complicações major são raras nos cen- O internamento é feito ao fim da tarde, na
tros com experiência e follow-up com mais de véspera da intervenção, sendo o doente obser-
10 anos. As mais comuns são a migração de eléc- vado por um dos elementos da equipa.
trodo (23%), infecção (5%) e Fractura do A intervenção decorre em meio asséptico,
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eléctrodo (3%) . com o doente perfundido com um soro polie-
lectrolítico e antibioterapia adequada. É então
colocado em decúbito ventral. Procede-se à
Prática clínica identificação correcta das vértebras com in-
As normas de consenso apontam claramente tensificador de imagem, faz-se sob anestesia
a instituição de boas práticas, que a serem ne- local uma incisão paramediana esquerda entre
glicenciadas podem comprometer o êxito dos D4-D7, onde se disseca cirurgicamente uma
resultados obtidos (Quadro 1). zona supra-aponevrótica de boas dimensões,
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Com base nestas orientações, a nossa Uni- para introduzir a nível de D5 uma agulha para
dade construiu um modelo de actuação para pesquisa de espaço epidural. A técnica é feita
doentes com angina refractária e iniciou a pri- pelo método de gota pendente de Gutierrez e
meira implantação de neuroestimulação para uma vez atingido o espaço epidural é avançado
estes doentes em 25/02/2004. A nossa experi- o electrocateter até C7-D1, sob controle fluoro-
ência resume-se actualmente a 4 doentes im- coscópico, até se conseguir uma zona de pa-
plantados, pelo que os resultados não são sig- restesia sobreponível à região da dor referida
nificativos. pelo doente. Este momento faz-se acoplando o
A referenciação do doente é feita pelo Cardio- electrocateter a um gerador externo, onde um
logista, cumpridos os critérios de diagnóstico da assistente monitoriza as sensações referidas
angina refractária. pelo doente. Conseguida uma boa zona de pa-
A 1. consulta de avaliação é multidisciplinar, restesias, o gerador externo é desligado e pro-
a
o
em 3 tempos: cede-se ao 2. tempo de implante, com ligação DOR
1. com a Psicóloga e Enfermeiro, com admi- do electrocateter ao gerador, que é colocado na
nistração do ITAP, Brief Pain Inventory (for- região subcostal esquerda ou região nadegueira 25
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