Page 16 Volume 13 - N.4 - 2005
P. 16
Dor (2005) 13 A. Manjón, C. Oliveira: Dor na Criança Até aos Três Anos
Dor na Criança Até aos Três Anos
Antonio Manjón e Carmen Oliveira 2
1
Resumo
Nos últimos anos, tem vindo a aumentar o número de publicações sobre dor na criança, bem como a sen-
sibilidade dos profissionais de saúde para o seu tratamento. No entanto, ainda persistem mitos que impedem
a correcta abordagem terapêutica. Um dos principais problemas surge no momento de quantificar a dor,
especialmente em idades inferiores a três anos. Independentemente de publicações preconizarem a utilização
de novas escalas de avaliação, consideramos que as que já estão validadas e homologadas devem ser
preferidas. A abordagem terapêutica deve ser multimodal, recorrendo a todo o arsenal farmacológico dispo-
nível de forma a evitar os erros cometidos no passado.
Palavras-chave: Dor. Criança. Escalas. Terapêutica.
Abstract
In the last years there has been an increase in published articles concerning Pain in Children, as well as in
professional’s awareness for its proper treatment. In spite of this, many are the myths that prevent the ideal
therapeutic approach. One of the major difficulties arises in the assessment and quantification of pain,
mainly in children under 3 years of age. In the literature one might find newer assessment scales, however
we prefer to use the validated ones. Children’s treatment must be multimodal, using all therapeutic tools
available in order to prevent repeating the same mistakes.
Key words: Pain. Children. Scales. Therapeutic.
Introdução fissionais. Verifica-se que os opióides são pouco
O estudo da dor na criança tem sido uma utilizados, a analgesia é frequentemente prescrita
matéria esquecida ao longo dos anos. em SOS através de vias de administração pouco
Neste sentido podemos referir que, das eficazes e seguras, como é o caso da via rectal.
1.380 publicações sobre dor realizadas entre Estudos realizados com pediatras espanhóis,
1
1970-75, só 33 foram dedicadas às crianças . sobre a qualidade da formação no âmbito da dor,
Felizmente esta situação tem-se modificado. A demonstraram que 90% destes profissionais tive-
partir dos anos 80, assistiu-se a um aumento ram uma formação deficitária e 65% se sentiam
5
progressivo de trabalhos e encontros científicos incapazes de avaliar correctamente as situações .
2
relacionados com a dor pediátrica . Indepen- São vários os factores responsáveis pela de-
dentemente de se verificar um incremento nas ficiente abordagem terapêutica. Os mais fre-
publicações indexadas à Med-Line entre 1980 e quentemente referidos na literatura são:
2000 (Quadro 1), estas ainda continuam a ser – Preocupação na realização do diagnóstico
insuficientes dada a complexidade do tema. etiológico, ficando para segundo plano o
1
A prevalência da dor na criança é no mínimo tratamento precoce da dor .
idêntica à dos adultos, sendo a administração de – Mitos referentes à maior tolerância à dor e
analgésicos muito inferior. Isto significa que uma inexistência de consequências a longo
6
percentagem significativa de crianças é tratada prazo .
3,4
de forma inadequada , independentemente de – Inadequadas avaliações e reavaliações por
6
existir uma maior sensibilidade por parte dos pro- parte dos profissionais .
– Crença relativa à imaturidade neuronal da
criança e incapacidade para interpretar es-
7
tímulos nóxicos como dor .
1 Assistente Hospitalar de Anestesiologia
2 Interna Complementar de Anestesiologia – Desconhecimento da farmacologia dos opi-
Unidade da Dor Crónica e Medicina Paliativa óides e receio de efeitos adversos como a DOR
1,6
ULS Matosinhos EPE depressão respiratória ou dependência .
1,6
Matosinhos, Portugal – Falta de tempo para comunicar . 15