Page 24 Volume 13 - N.4 - 2005

Dor (2005) 13 T. Rebelo, C. Oliveira: Dor no Doente com Alterações Cognitivas

Dor no Doente com Alterações

Cognitivas

Teresa Rebelo e Carmen Oliveira 2
1

Resumo
Sendo a dor uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesão tecidular actual ou
potencial ou descrita em função dessa lesão (IASP), é uma entendidade predominantemente subjectiva, que
de algum modo pretendemos objectivar. Para tal dispomos de alguns métodos de uniformização, para que
a avaliação seja a mais correcta possível. Se esta tarefa já é difícil, os problemas potencializam-se nos do-
entes com défices cognitivos, na sua maioria incapazes de descrever a dor, levando a uma subvalorização
do quadro e consequente subtratamento. Embora sejam poucos os trabalhos publicados, as escalas de
comportamento continuam a ser o método mais usado para avaliação da dor nestes doentes. Um grupo
particularmente estudado é o dos idosos com demência, enquanto as crianças ainda nos impõem muitas
limitações. Um instrumento fiável e prático que permita o correcto manuseio da dor continua a ser sonho
que todos os clínicos gostariam de tornar realidade.

Palavras-chave: Dor. Défice cognitivo. Avaliação.

Abstract
Pain is defined as an unpleasant sensory and emotional experience associated with actual or potential tissue
damage or described in terms of such damage. In other words, it is a subjective concept which the clinician
attempts to objectivate. For this purpose there are assessment tools one can use in order to perform the
most correct approach to pain evaluation. If this assessment is difficult on a regular basis, it becomes even
more of a challenge in the cognitive impaired patient, frequently leading to under evaluation and under treat-
ment. Few examples can be found in published literature which concern this subject; notwithstanding, be-
havioural assessment tools are the most recommended. The adult cognitive impaired patient is better stud-
ied than the younger, leading to crucial limitations when evaluating an impaired child’s pain. The search for
a practical and reliable instrument is far from being concluded, but continues at the expense and persever-
ance of some.
Key words: Pain. Cognitive deficits. Assessment.

Introdução digno para a sua caracterização, no entanto exis-
tem doentes incapazes de se expressar de uma
2
A correcta abordagem da dor passa pela ava- forma clara e precisa (crianças até aos três anos
liação da mesma pelos profissionais que cuidam e doentes com défices cognitivos). Torna-se en-
do doente. O recurso a linguagem adequada tão necessário o recurso a outros métodos ou
mas simples e metodologia amplamente divul- instrumentos para identificar e tratar estes doen-
3
gada são as formas mais eficazes para obter tes impedindo o seu sofrimento e o não-diag-
resultados consistentes e continuados e diminuir nóstico de situaçõespotencialmente fatais.
o risco de confusão e erros . Existem poucos trabalhos sobre doentes com
1
Dado o carácter subjectivo e multidimensional défices cognitivos, contudo aqueles que se de-
da dor, a auto-avaliação é o método mais fide- bruçaram sobre esta temática referem que 25%
destes doentes apresentam limiar de dor aumen-
tado e apresentam frequentemente comporta-
mentos paradoxais (simulação de comportamen-
1 Assistente Hospitalar de Anestesiologia tos de dor sem a sentirem e comportamentos de
2 Interna Complementar de Anestesiologia
Unidade da Dor Crónica e Medicina Paliativa auto-agressão). DOR
ULS Matosinhos EPE O não-tratamento da dor apresenta consequên-
Matosinhos, Portugal cias nefastas na qualidade de vida dos doentes, 23