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Dor (2006) 14 J.M. Brás: Aplicação da Neuroestimulação Medular no Tratamento da Doença Vascular Periférica

Aplicação da Neuroestimulação


Medular no Tratamento

da Doença Vascular Periférica



José Manuel Brás






Resumo
A doença vascular periférica é uma patologia que atinge cada vez maior número de doentes em que a dor
de etiologia isquémica constitui um sintoma importante. Neste artigo apresentam-se as principais indicações
de tratamento desta patologia com utilização da neuroestimulação focando o seu mecanismo de acção,
selecção de doentes, técnica de implante e resultados obtidos.

Palavras-chave: Neuroestimulação. Doença vascular periférica. Doença vasoespástica.


Abstract
The peripheral vascular disease is a common condition in which ischemic pain is a major symptom. In this
article we present the indications for neurostimulation treatment of peripheral vascular disease focusing in
action mechanisms, patient selection, implant technique and results.

Key words: Neurostimulation. Peripheral vascular disease. Vasospastic disease.




Introdução dos doentes para isquemia crítica do membro
As patologias que afectam a vascularização – manifestação clínica mais grave –, definida
arterial periférica dos membros como a doença como dor grave em repouso acompanhada com
arterial obstrutiva periférica, a tromboangeíte obli- ulcerações isquémicas ou gangrena e possível
terans ou doença de Buerger, e a síndrome de indicação para amputação do membro.
Raynaud estão associadas a situações de dor O método mais utilizado no diagnóstico da
crónica de difícil controle pela terapêutica médi- doença arterial periférica consiste na deter-
ca disponível, sobretudo numa fase tardia da minação do índice ABI (ankle – brachial in-
sua evolução. dex). O diagnóstico coloca-se quando este
A doença arterial obstrutiva periférica tem como valor é inferior a 0,90 – os doentes com clau-
etiologia principal a arteriosclerose das artérias dicação intermitente apresentam valores en-
dos membros inferiores – os vasos mais frequen- tre 0,41-0,90, e os doentes com isquemia crí-
temente atingidos são a artéria femoral superficial tica do membro apresentam valores inferiores
e as artérias popliteias –, sendo uma importante a 0,40 (Fig. 1).
manifestação da arteriosclerose sistémica. Atinge A pressão arterial sistólica é medida em cada
cerca de 5-10% da população acima dos 65 anos, braço e ao nível da artéria pediosa (DP) e tibial
sendo o sintoma mais comum a claudicação inter- posterior (PT) no tornozelo. São seleccionados
mitente – dor num ou em ambos os membros in- os valores mais elevados de cada medição, de-
feriores, predominante na região gemelar, que terminando-se os valores do ABI de acordo com
ocorre durante a marcha, não alterada pela conti- a fórmula indicada.
nuação da actividade e aliviada pelo repouso. Os doentes podem ser agrupados de acordo
Cerca de 25% dos doentes apresentam uma com a sintomatologia segundo a classificação
claudicação progressiva e que evolue em 5-10% de Fontaine (Quadro 1).
O tratamento da doença arterial periférica é
faseado de acordo com o quadro clínico do
doente, passando numa primeira fase pela mo-
Neurocirurgião dificação de factores de risco – tabaco, hiper-
Centro Hospitalar de Lisboa DOR
Hospital Santo António dos Capuchos colesterolemia, diabetes, hipertensão arterial –,
Lisboa, Portugal terapêutica médica – antiagregação plaquetar –, 15
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