Page 13 Volume 17 - N.1 - 2009
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Quadro 1. Critérios de diagnóstico de delirium Quadro 2. Avaliação de delirium segundo o Confusion
estabelecidos pela Associação Americana de Assessment Method
Psiquiatria no DMS em 1994
– Início agudo e flutuação de sintomas
– Distúrbio de consciência (redução de clareza em – Distúrbio da atenção
relação ao ambiente), com dificuldade para focalizar, – Pensamento desorganizado
manter ou alternar atenção – Alteração da consciência
– Alterações cognitivas (distúrbio da memória, de – Agitação ou atraso psicomotor
linguagem e desorientação) ou alterações do sono – Desorientação
– Início agudo com sintomas flutuantes ao longo do dia – Prejuízo da memória
– Evidência, seja por história, exame físico ou testes – Distúrbio da percepção
laboratoriais, de que o distúrbio foi provocado por – Alterações do ciclo sono-vigília
uma condição médica, pelo uso de fármacos,
intoxicação ou abstinência de drogas ou por mais do
que uma destas situações
DMS: diagnostic and statistical manual Baseados nesses critérios, inúmeros autores
têm proposto instrumentos de avaliação de de-
lirium para a prática clínica. Um desses instru-
humor com episódios de labilidade emocional, mentos, o Confusion Assessment Method (CAM)
raiva e euforia, e alterações do pensamento. foi recentemente validado para a população por-
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A apresentação clínica do delirium varia de tuguesa . Os itens abordados para a avaliação
doente para doente, varia com o decorrer do de delirium pelo CAM são apresentados no qua-
tempo no próprio doente e partilha sinais e sin- dro 2.
tomas com outras patologias como a demência,
a depressão e a psicose. Desta forma, facilmen- Disfunção cognitiva
te se compreende a dificuldade e complexidade O termo disfunção cognitiva pós-operatória
de um diagnóstico precoce. (DCPO) descreve uma deterioração da cognição
No contexto anestésico-cirúrgico, é pertinente que é temporalmente associada a um procedi-
a distinção entre «delirium emergente» e o deli- mento anestésico-cirúrgico. Trata-se de um de-
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rium pós-operatório propriamente dito . Assim, clínio da função intelectual que se manifesta por
por «delirium emergente» entende-se o conjunto perda de memória e de concentração, em que
de alterações cognitivas verificadas no desper- os mecanismos de percepção e de processa-
tar de uma anestesia geral, com resolução em mento de informações, que permitem ao indiví-
minutos a horas, verificadas em todos os grupos duo adquirir conhecimentos e solucionar proble-
etários, embora com aparente predomínio nas mas, estão comprometidos . Esta deterioração
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crianças. Directamente relacionado com os efei- geralmente manifesta-se como falhas na execu-
tos dos anestésicos utilizados, ocorre no desper- ção de tarefas cognitivas simples. Em casos
tar da anestesia, mimetiza o estádio II de Guedel mais graves, os distúrbios acompanham-se de
(excitação) e normalmente não deixa sequelas. confusão, alucinações e delirium .
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Após a cirurgia, pode ocorrer outro tipo de de- Como pretende demonstrar a figura 1, um dos
lirium sem relação com o despertar anestésico e critérios que melhor permite fazer a destrinça
muito frequente na faixa etária acima dos 70 anos. entre delirium e disfunção cognitiva pós-opera-
Regra geral, os doentes idosos despertam da tórios é o intervalo de tempo, após a cirurgia,
anestesia de forma suave; no entanto, após um em que surgem os distúrbios cognitivos.
intervalo de lucidez na unidade de cuidados pós- De facto, o «emergence delirium» ocorre ainda
anestésicos, muitos deste doentes desenvolvem na sala operatória ou na unidade de cuidados
alterações cognitivas que caracterizam o delirium pós-anestésicos (UCPA). O delirium pós-opera-
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pós-operatório . Maioritariamente, esta síndrome tório verifica-se entre os primeiro e terceiro dias
desenvolve-se entre o primeiro e o terceiro dia pós-cirurgia. Por último, as alterações despole-
pós-cirurgia, com resolução em horas ou dias. tadas semanas a meses após um procedimento
A heterogeneidade da apresentação clínica cirúrgico configuram a DCPO.
conduziu à identificação de três subtipos de deli-
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rium: o hiperactivo, o hipoactivo e o misto . Con-
trastando com a forma hiperactiva, que por si só
se torna clinicamente óbvia, o delirium hipoactivo é
muitas vezes subvalorizado, não diagnosticado ou
simplesmente encarado como uma inerência da
idade, já que os doentes permanecem inertes no
leito e imersos na sua própria desorientação.
Os critérios de diagnóstico de delirium estão
estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatís-
DOR tico para Transtornos Mentais (DSM) de 1994 da Figura 1. Intervalo de tempo: a principal distinção entre
Associação Americana de Psiquiatria e são
12 apresentados no quadro 1. delirium e disfunção cognitiva pós-operatórios.
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