Page 14 Volume 20 - N1 - 2012
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R. Louzada, et al.: Dor da Cintura Pélvica na Grávida

Quadro 3. Fatores de risco e evidência científica 2
Forte evidência Fraca evidência Sem evidência
História anterior de: – História de PGP em gravidez anterior – Uso de anticoncetivos orais
– Dor lombar/cintura pélvica – Multípara – Intervalo entre gravidezes
– Trauma na região pélvica – Atividade física acentuada – Altura
– Ergonomia deficiente no local de trabalho – Tabaco © Permanyer Portugal 2012
– IMC elevado pré-gravidez/final gravidez – Idade
– Hiperlaxidão generalizada – Amamentação
IMC: índice de massa corporal; PGP: dor da cintura pélvica.



Esta dor está relacionada com atividades es- dor permite o diagnóstico diferencial com lom-
pecíficas como a marcha ou a flexão anterior do balgia, lombociatalgia, dor visceral ou vascular.
tronco. Na recolha dos dados clínicos, têm também im-
portância diagnóstica as exacerbações relacio-
Etiologia nadas com a mudança de posição de sentada
O mecanismo exato que leva ao aparecimen- para ortostatismo, períodos prolongados na
posição sentada/ortostatismo, com a marcha
to da DCPG ainda não está esclarecido. A evi- (waddling gait) com as relações sexuais, com a
dência científica favorece a hipótese de uma abdução da anca (que muitas vezes está limita-
etiologia multifatorial durante a gravidez e no da) e com o aumento da pressão intra-abdomi-
pós-parto. Não há nenhuma explicação óbvia nal (manobras de Valsalva).
para o início da maioria dos casos de DCPG, no Em relação ao exame objetivo, e segundo as
entanto, na gravidez a mulher fica exposta a recomendações europeias , não há um teste de
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fatores que podem ter impacto na estabilidade diagnóstico de referência, um gold standard. Os
da pélvis (biomecânica anómala da cintura pél- testes seguintes são recomendados no exame
vica, compensação de desequilíbrios articulares objetivo da avaliação da DCPG, apresentando
com funções musculares alteradas, hormonas uma elevada especificidade e uma baixa sensibi-
– relaxina, progesterona). lidade, sendo por isso recomendada a realização
Os estudos epidemiológicos que existem são de todos os testes para não excluir DCPG se um
poucos, sendo que apenas alguns fatores de destes for negativo.
risco estão provados ter relação ou impacto no Assim sendo, para a avaliação da dor localiza-
desenvolvimento desta patologia. Os fatores da na proximidade das articulações sacroilíacas
de risco com forte evidência para o desenvol- devemos realizar (ver anexo):
vimento de DCPG são: uma história anterior de – Teste de provocação de dor posterior (P4).
lombalgia ou dor da cintura pélvica e história – Teste Patricks/FABER. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
de trauma na pélvis. A multiparidade e a ativi- – Palpação do ligamento dorsal sacroilíaco.
dade física acentuada são fatores cuja associa- – Teste de Gaenslens (Fig. 3).
ção apresenta resultados contraditórios à luz da Para avaliação da dor da sínfise púbica efe-
evidência científica atual. Há consenso em afir- tua-se a palpação da sínfise e o teste de Tren-
mar que não são fatores de risco a contraceção delenburg modificado (Fig. 4).
oral, altura, peso, tabagismo, idade e o intervalo Para a avaliação funcional da pélvis faz-se o
de tempo entre gravidezes (Quadro 3). teste de Laségue modificado (active straight leg
No entanto, sabe-se que a DCPG pode surgir raise test).
em mulheres sem nenhum fator de risco. Os exames complementares de diagnóstico
são de valor limitado e não devem ser realiza-
Diagnóstico dos indiscriminadamente. Os exames laborato-
A DCPG, como definida anteriormente, está riais são habitualmente normais, com elevações
associada a dor localizada na cintura pélvica, ligeiras e inespecíficas dos reagentes de fase
quer posteriormente na proximidade das sacroi- aguda (proteína C reativa ou velocidade de se-
líacas e estendendo-se até à área glútea quer dimentação); na maioria dos casos um hemogra-
anteriormente na zona da sínfise púbica; pode ma completo, bioquímica e análise sumária da
irradiar para a região inguinal, períneo, ou pos- urina são requisitados para auxílio no diagnóstico
teriormente para a coxa, não obedecendo a diferencial.
nenhum trajeto nervoso. Uma localização precisa Os exames complementares de diagnóstico
muitas vezes é impossível e pode mudar ao longo imagiológicos fornecem informação mais rele-
da gravidez. vante no caso da DCPG; a realização de radio-
Alguns autores recomendam a realização de grafias pélvicas (incidências ântero-posterior ou
um registo pormenorizado da dor nas doentes com Flamingo) permite detetar casos subtis de diás- DOR
suspeita de DCPG para um melhor sucesso no tase da sínfise púbica e irregularidades do contorno
diagnóstico . A anamnese com o mapeamento da da sínfise, no entanto não se estabeleceu uma 13
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