Page 16 Volume 20 - N1 - 2012
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R. Louzada, et al.: Dor da Cintura Pélvica na Grávida
A hidroginástica, os exercícios direcionados para fazer parte de um protocolo de abordagem e
a cintura pélvica (pelvic tilt exercises), a acupun- como alternativa última sugerida por um cirur-
tura e a fisioterapia 5,7,12,15 são utilizados com gião especialista.
base no nível de dor referida e estão associados
a diminuição da disfunção no período pré-parto. Prognóstico
Nos casos em que o quadro álgico permanece
no pós-parto, os exercícios de estabilização da A DCPG aparece descrita como uma entidade © Permanyer Portugal 2012
cintura pélvica permitem uma recuperação fun- autolimitada na qual, em 93% dos casos, os
cional e melhoria da qualidade de vida. A fisio- sintomas desaparecem nos primeiros três meses
terapia prescrita e supervisionada de modo in- pós-parto. Apenas 1-2% das puérperas perma-
dividualizado permite melhores resultados do necem com queixas no primeiro ano pós-parto,
que as terapias mais generalistas dirigidas para e na maiorias dos casos experienciaram dor inten-
a dor lombar/cintura pélvica. sa durante a gravidez. Segundo Albert H, et al.,
Em relação à terapêutica farmacológica, o pa- 79% das doentes com DCPG grave estarão as-
racetamol é o fármaco consensual como anal- sintomáticas dois anos após o parto.
gésico permitido durante a gravidez, no entanto Estão descritos diversos fatores de mau prog-
pode ser insuficiente para os níveis de dor da nóstico, e que incluem: número elevado e simul-
DCPG. Os opióides fracos, como a codeína ou tâneo de testes de provocação de dor da cintura
o tramadol, estão contraindicados durante a pélvica positivos, limitação da mobilidade, baixo
gravidez e durante a amamentação. Nos casos nível educacional, multiparidade, trabalho de par-
permitidos, a combinação destes dois últimos to prolongado, idade superior a 29 anos, dores
grupos de analgésicos permite uma analgesia de intensidade elevada (VAS > 6), início da dor
adequada. Os anti-inflamatórios não-esteroi- precocemente na gravidez, combinação de
des (AINE) têm um melhor efeito analgésico dor lombar e pélvica e dor em mais que uma das
quando comparados com o paracetamol, no en- articulações da cintura pélvica.
tanto estão relacionados com teratogenicidade A recorrência da dor está referida com uma
do feto e outras complicações quando utilizados prevalência entre 41-77%, quer relacionada com
na gravidez. uma gravidez subsequente quer relacionada
A utilização de fármacos com maior potência com o ciclo menstrual. Na maioria dos casos em
analgésica deve ser escalonada de acordo com que há recorrência da DCPG na gravidez, a
a intensidade da dor. síndrome aparece de um modo mais grave.
Há alguns estudos que referem a utilização de
analgesia epidural com bons resultados, quer Conclusão
em administração única, quer como perfusão A DCPG é uma entidade comum na grávida,
contínua durante as exacerbações, em qualquer que pode ser experienciada de modos dife-
dos casos deve ser considerada como uma me- rentes e que não deve ser considerada como
dida temporária até ao parto 15,16 . normal.
As injeções dirigidas com anestésicos locais Esta síndrome tem tido um interesse crescente Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
e corticoides foram utilizadas como prova tera- por parte da população em geral e da comuni-
pêutica nos casos com artrite evidente das arti- dade científica, estando esta última cada vez
culações da cintura pélvica. mais sensibilizada para esta entidade.
Em relação à fase do trabalho de parto, pare- A mulher grávida deve ser precocemente re-
ce ser o período em que há menos investigação ferenciada a uma equipa interdisciplinar, para
em relação à sua influência na persistência dos obter ajuda especializada de modo a reduzir a
sintomas no pós-parto. É consensual que nesse morbilidade física e psicológica uma vez que é
momento deve haver o mínimo de stress na cin- uma doença tratável.
tura pélvica, deve ser evitada a abdução das No entanto, existe a necessidade de avaliar
ancas para além do arco de movimento tolerado em futuros ensaios clínicos randomizados e mul-
(a amplitude da abdução da coxa sem dor deve ticêntricos as diferentes modalidades terapêuti-
ser determinada antes do parto), mesmo sob cas e a criação de instrumentos que permitam
anestesia, e minimizar o tempo do posiciona- fazer uma avaliação do prognóstico.
mento em litotomia (decúbitos laterais e posição
sobre os quatro membros «de gatas» preferen- Bibliografia
cialmente). O parto por via cesariana não pare-
ce oferecer vantagens nas grávidas com DCPG 1. Association of Chartered Physiotherapists in Women’s Health. Guid-
ance for Healthcare Professionals, Pregnancy-Related Pelvic Girdle
estabelecida, exceto nos casos extremos, quan- Pain.
do o posicionamento para o parto eutócico não 2. European Guidelines on the Diagnosis and Treatment of Pelvic
é tolerado. Girdle Pain. Eur Spine J. 2008;17:794-819.
Por último, de referir a cirurgia de fusão pél- 3. Fall M, Baranawski AP, Fowler CJ, et al. EAU Guidelines on Chronic
Pelvic Pain. Euro Urol. 2004;46:681-9.
vica que é a terapêutica de última linha, quan- 4. Bjelland EK, Eskild A, Johansen R, et al. Pelvic girdle pain in preg-
do todas as outras medidas não-cirúrgicas nancy: the impact of parity. Am J Obstet Gynecol. 2010;203:146. DOR
falharam e quando persistem queixas com ele- 5. Pennick V, Young G. Interventions for preventing and treating pelvic
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vado grau de disfunção. A opção cirúrgica deve Art. No.: CD001139. DOI: 10.1002/14651858.CD001139.pub2. 15
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