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J.A. Martins Campos: Nevralgia do Trigémeo e Técnicas Invasivas Percutâneas
Tratamentos invasivos linha média, inclinado para baixo e para
Esgotado o efeito da medicação, ou em caso de dentro. Por causa desta orientação a agulha
intolerância, ou por escolha do doente, temos deve ser introduzida cerca de 1 cm abaixo,
de considerar os tratamentos cirúrgicos, inter- enquanto o indicador carrega no bordo in-
venções percutâneas ou abertas. Durante mui- ferior da órbita, protegendo-a. Cateteriza-se
tos anos o paradigma destes tratamentos foi o o canal por uma distância de cerca de 1 cm
mesmo: a probabilidade de alívio da dor e a e aspira-se; se vier ar, a agulha encontra-se © Permanyer Portugal 2012
duração do mesmo é proporcional ao grau de no seio maxilar. Caso contrário injetamos cer-
anestesia provocada pela técnica escolhida. A ca de 1 cm de álcool a 95%. Devemos pres-
exceção apareceu na década de 1980, com a sionar uns minutos para minimizar a hemor-
descompressão microvascular na fossa poste- ragia da artéria infraorbitária ou a difusão
rior (DMVFP). Quanto sei, esta é a única técnica de álcool para a superfície, com correspon-
que, refinada a sua execução, permite ter um dente hematoma ou edema da face.
doente livre de dor e sem parestesias, diseste- – O buraco mentoniano encontra-se a meia dis-
sias, anestesia dolorosa, ou outras complica- tância entre os bordos superior e inferior da
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ções sérias. Trata-se de uma técnica à qual ade- mandíbula, por cima dos 1. e 2. pré-molares
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ri, como tratamento de primeira linha, a partir de ou sobre o 2. do lado direito, e entre os 1.
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1987. Mesmo dirigindo-se a uma população e 2. do lado esquerdo. O canal tem uma
idosa é possível um apuro tecnológico minima- inclinação para trás e para cima. A canaliza-
mente invasivo, com craniectomias de pouco ção e infiltração obedecem aos mesmos
mais de 1 cm , em decúbito dorsal, com muito princípios descritos para os dois anteriores.
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pouca manipulação dos tecidos nervosos. Estas técnicas são hoje pouco usadas, têm
geralmente uma duração limitada a algumas se-
manas ou meses, mas são de simples execução
Infiltrações periféricas e podem resolver, no momento, situações de dor
Resta ainda espaço para as infiltrações peri- intensa. Há que ser rigoroso com a técnica para
féricas no tratamento da NT: por opção do doen- evitar hematomas ou edema da face.
te; por esgotamento do efeito dos medicamen- Descrevi as técnicas usadas habitualmente
tos, nomeadamente após recidiva de cirurgia; pelo neurocirurgião, por norma suficientes para
por motivos clínicos bem definidos, e. g., prepa- o que delas queremos. Mas podem encontrar-se
rar o doente para que tenha condições operató- alternativas detalhadas nos bloqueios anestési-
rias; por no curso de uma DMVFP não ter sido cos comuns em estomatologia .
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encontrada uma compressão. E por bom senso
clínico: se um doente nos aparece na consulta
com uma nevralgia inicial bem localizada a uma Intervenções percutâneas no gânglio de Gasser
divisão do trigémeo, frontal, malar ou mentonia- Pressupõem a introdução de uma agulha pela
na podemos, em poucos minutos, acabar com face, através do buraco oval, até ao gânglio. Faz-se
a dor durante meses, anos, ou definitivamente, sob controlo radiológico, mas é correto conhecer Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação.
com uma simples injeção periférica, por exem- a técnica da introdução sem esse apoio. O bura-
plo de álcool, nos canais supraorbitário, infraor- co oval fica na interseção de três planos:
bitário, ou mentoniano. Pode ser feito com con- – O plano coronal, que passa por um ponto
trolo radiológico, mas as coordenadas desses situado na arcada zigomática, em cada
canais estão bem definidas e, muitas vezes, são lado, 2,5 cm adiante da parte média do
palpáveis. Encontram-se aproximadamente no canal auditivo: plano zigomático.
mesmo plano sagital. – O plano orbitomeatal, da base do crânio.
– A chanfradura supraorbitária é facilmente – O plano sagital que passa pela pupila ho-
palpável e não é necessário, por regra, con- molateral.
trolo radiológico. Com um polegar devem O ponto de introdução da agulha corresponde
pressionar-se os tecidos contra o teto da ao cruzamento da paralela tirada do canto exter-
órbita, para desencorajar a descida do lí- no do olho para baixo, com uma linha que parte
quido injetado ou sangue nessa direção. A de 1 cm adiante do tragus, sobre a apófise zigo-
agulha é introduzida na chanfradura, po- mática, ao canto externo da boca. Na prática a
dendo confirmar-se a sua posição com al- 2,5-3 cm da comissura labial lateral, ou 6 cm da
gumas gotas de anestésico local. Obtida a comissura mediana. A agulha a usar deve de ser
anestesia do território correspondente pro- de calibre 22, com 9 ou 10 cm de comprimento.
cede-se à injeção de uma pequena quanti- Podemos usar estas coordenadas e, com o doen-
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dade (0,5 cm ) de álcool a 95%, devendo te sentado, procurar atravessar o buraco oval.
a agulha ser deslocada em diversas dire- Habitualmente introduzo a agulha sob controlo
ções, para abranger um maior número de radiológico: o doente está deitado, com a cabeça
fibras. Depois de uns minutos de pressão o em extensão, rodada de uns 20-30 para o lado
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doente pode deixar o hospital. oposto à dor, e uma angulação caudal de cerca de DOR
– O buraco infraorbitário palpa-se 0,8 cm 30 do C-arm do intensificador de imagem. A
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abaixo do rebordo orbitário e a 2,5 cm da agulha é introduzida na direção do buraco oval, 29