Page 37 Opióides
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As diferentes abordagens do neuroeixo compreendem as seguintes
variantes: bolus ou perfusão contínua por via epidural ou por via subarac-
noideia. A escolha da modalidade a efectuar depende de múltiplos factores
incluindo: duração da terapêutica, características e localização da dor,
extensão da doença e grau de envolvimento do sistema nervoso central,
dose necessária de opióide e preferência do doente. Estes factores têm
que ser balanceados com o facto da via subaracnoideia necessitar de doses
muito menores de opióides (cerca de um décimo) do que a via epidural,
e com o facto da duração de acção dos opióides por via subaracnoideia
ser menor do que por via epidural. Em relação à via oral a dose de morfi-
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na a administrar por via subaracnoideia é cerca de 12 vezes menor .
É a lipossolubilidade que estabelece as diferenças de analgesia entre
os vários opióides: maior lipossolubilidade, maior metamerização de
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acção e menor duração de acção . Dos opióides conhecidos, a morfina
é o fármaco de eleição, devido à sua relativa baixa lipossolubilidade,
que determina um lento início de acção (1 a 2 horas) e uma longa du-
ração da analgesia (10 a 12 horas), quando administrado em doses
fraccionadas. Também a menor metamerização do efeito analgésico da
morfina é um factor a ter em conta, uma vez que condiciona de uma
forma menos marcada o nível de abordagem da via epidural em relação
ao local de origem da síndrome álgico.
As complicações e os efeitos secundários associados a estas vias
podem ser divididos em três categorias: complicações do procedimen-
to (ex.: infecção, e/ou hemorragia, seroma, higroma com líquido cefalo-
raquidiano, cefaleias após a punção da dura-máter), avaria do sistema
(ex.: obstrução das tubagens, desconexão, migração do catéter) e efei-
tos farmacológicos (ex.: depressão respiratória, sedação, alterações
hormonais condicionando alterações dos comportamentos sexuais).
A incidência destas complicações pode ir de 10% a 40% 65,70 . Com excep-
ção da obstipação, são raros os efeitos secundários dos opióides.

Outros problemas farmacológicos incluem o desenvolvimento de
tolerância e a hiperalgesia. O primeiro resulta da diminuição da sensi-
bilidade dos receptores após administrações continuadas, o que pode
ser evitado fazendo uma pausa na administração dos opióides por um
período de 2 a 3 semanas. A hiperalgesia tem sido associada às perfu-
sões subaracnoideias de morfina em elevadas doses (superiores a
30 mg/dia). Este efeito paradoxal, parece ser secundário a um mecanis-
mo não opióide e pode ser tratado reduzindo a dose de morfina .
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A complexidade do material usado nas perfusões por estas vias, e a
necessidade de haver uma monitorização adequada por pessoal especia-
lizado, origina que estas técnicas sejam economicamente dispendiosas.


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