Page 115 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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a dor e sua intensidade. Os pacientes podem paciente inclui informações sobre redução de
interpretar essa indicação como sendo atividades e evitar atividades diárias, inclusive
“descartados” ou estigmatizados. atividades físicas, devido ao medo de a dor piorar.
Como já mencionado, a dor afeta todo o “corpo e Também é importante avaliar o uso / sobreuso de
alma” de nossos pacientes. Como a perceção da dor medicação e obediência ao tratamento [16] para
é sempre mais do que um sinal de nossos nervos, detectar possíveis dicas de abuso de drogas. As
todos os pacientes com dor crônica devem ser perguntas podem ser:
cuidadosamente examinados. Para tanto, os aspetos  “Quando você precisa tomar a medicação?”
“somáticos” e “psicológicos” devem ser incluídos  “Com que frequência você a toma?”
no processo diagnóstico desde o início. O médico  “Quanto você precisa tomar para aliviar a
terá então um quadro completo do paciente e dor?”
poderá entender melhor várias coisas: a natureza da  “Quais outros medicamentos você tentou?”
dor, como a dor é percebida pelo paciente, e como A avaliação de possíveis comorbidades, como
ela afeta a vida do paciente. Por outro lado, o depressão, ansiedade, transtornos somatoformes e
paciente pode aprender desde o início que sua dor transtornos de estresse pós-traumático (TEPT) é
pode ser mais do que apenas um sinal de alarme de outro objetivo importante da entrevista psicológica,
uma lesão. Desde o início, a dor e suas implicações junto com a avaliação dos riscos de cronificação.
psicológicas devem fazer parte das conversas entre
médico e paciente: o paciente nunca deve sentir que Quais são outros possíveis riscos de
o médico duvida de sua dor e de seus efeitos na sua cronificação?
vida. Um sistema útil para identificar fatores psicológicos
de risco, conhecido como “Bandeiras Amarelas”, foi
Qual seria uma técnica adequada para obter a desenvolvido por Kendall e col. [4] principalmente
história de um paciente? para pacientes com lombalgia, mas também pode
A avaliação psicológica inclui a entrevista clínica, o ser aplicado a outras síndromes dolorosas:
uso de questionários psicológicos padronizados e a
supervisão precoce do comportamento do paciente. Cognição/crenças
Na prática clínica, a entrevista é uma maneira
importante de detectar as queixas e atitudes do  Exercício / esforço é prejudicial.
paciente. Não é possível obter todas as informações  A dor deve desaparecer completamente
em uma única entrevista, devido às diferentes antes de retomar qualquer atividade.
questões que envolvem a resposta à dor. Existem  Catastrofização.
métodos altamente estruturados no campo da  Convicção de que a dor é incontrolável.
pesquisa, que costumam não ser práticos no dia-a-  Ideias fixas sobre o desenvolvimento do
dia devido a limitações de tempo. Formatos não tratamento.
padronizados facilitam o foco em tópicos que
surgem como essenciais durante a discussão. É mais Emoções
fácil diagnosticar ações não verbais, tais como evitar  Medo muito grande da dor e da
movimentos ou fazer expressões faciais de emoções incapacitação.
durante a entrevista, junto com emoções como  Reações depressivas.
tristeza ou raiva.  Maior conscientização dos sintomas físicos.
 Desamparo / resignação.
Qual é o formato de uma entrevista específica para dor
crônica com aspectos psicológicos subjacentes? Comportamento:
A entrevista deve conter perguntas sobre
experiências dolorosas anteriores e sobre o  Comportamento claramente precavido.
desenvolvimento da dor, explicações individuais  Abandono das atividades diárias normais.
sobre a origem da dor, e os objetivos do tratamento  Comportamento claramente preventivo.
para o paciente. A avaliação do comportamento do
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