Page 150 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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de Reye, geralmente a aspirina não é recomendada  Os supositórios de diclofenac estão
em lactantes. No entanto, a transferência absoluta disponíveis em alguns países e são
de aspirina para o leite é negligenciável (< 2,4%), comummente usados para analgesia no pós-
cerca de 1 mg/L de leite, se as doses clínicas forem parto. Os níveis no leite materno são
respeitadas. É pouco provável que exista aspirina extremamente baixos.
suficiente no leite após a toma de um comprimido  Os inibidores da COX-2, como o celecoxib,
de 82 mg pela mãe para causar uma predisposição podem apresentar algumas vantagens
na criança para a síndrome de Reye, mas tal teóricas se existir o receio de hemorragia
permanece incerto. materna. As possíveis vantagens devem ser
A administração de petidina (meperidina) no ponderadas relativamente ao maior custo e
período pré-natal é cada vez mais controversa. aos potenciais riscos cardiovasculares, que
Embora o medicamento seja comummente usado deverão ser mínimos com a administração a
em obstetrícia, a sua administração é cada vez mais curto prazo em jovens mulheres saudáveis.
desaprovada, uma vez que tem sido observada Tanto a dor como a analgesia com opióides
sedação nos recém-nascidos. Quando administrado podem ter um impacto negativo sobre os resultados
às mães, constatou-se que o medicamento causava da amamentação. Por conseguinte, as mães devem
depressão respiratória neonatal, índices de Apgar ser incentivadas a controlar a dor com a dose mais
inferiores, saturação de oxigénio mais baixa, acidose baixa de medicação possível totalmente eficaz. A
respiratória e resultados neurocomportamentais analgesia pós-parto com opióides pode afetar o
anómalos. A petidina é metabolizada em estado de vigilância dos bebés, bem como a força de
norpetidina, que é ativa e tem uma semi-vida de sucção. Porém, quando a dor da mãe é
aproximadamente 62 a 73 horas nos recém- adequadamente tratada, os resultados da
nascidos. Devido a esta semi-vida prolongada, a amamentação melhoram. Especialmente após um
depressão neonatal após a exposição à petidina pode nascimento por cesariana ou após traumatismo
ser profunda e prolongada. A transferência de perineal grave que exija reparação, as mães devem
fentanil para o leite materno é reduzida. Em ser incentivadas a controlar adequadamente a sua
mulheres que recebem doses que variam dos 50 aos dor.
400 g por via intravenosa durante o trabalho de
parto, a quantidade encontrada no leite era Medicamentos administrados por via
geralmente inferior ao limite de deteção (<0,05 intravenosa
g/L).  Deve evitar-se a petidina, devido a sedação

neonatal registada quando administrada a
Anestesia pós-parto lactentes no pós-parto, para além dos riscos
de cianose, bradicardia e de apneia
observados na administração durante o
Analgésicos não opióides
Geralmente, os analgésicos não opióides deverão ser parto.
a primeira escolha para o tratamento da dor em  A administração de doses moderadas a
mulheres a amamentar no pós-parto, uma vez que baixas de morfina por via intravenosa (i.v.)
não afetam o estado der alerta da mãe ou do bebé. ou intramuscular (i.v.) é preferida, uma vez
que a transferência para o leite materno e a
 O acetaminofeno e o ibuprofeno são
seguros e eficazes para a analgesia das mães biodisponibilidade oral nos bebés são mais
no pós-parto. reduzidas com este agente.
 Quando é escolhida uma analgesia por via
 O cetorolac parentérico pode ser usado nas
mães sem hemorragias e sem antecedentes i.v. controlada pelo doente (PCA) após uma
de gastrite, alergia à aspirina ou insuficiência cesariana, são preferidas a morfina ou o
renal. fentanil relativamente à meperidina.
 Embora não existam dados sobre a
transferência de nalbufina, butorfanol ou





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