Page 29 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
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nervoso devia produzir químicos que constituíam Dor referida
ligandos naturais destes recetores. Foram Os órgãos viscerais não têm qualquer inervação
descobertos três grupos de compostos endógenos nervosa Aδ, mas as fibras C que transportam a
(encefalinas, endorfinas e dinorfina) que se ligam informação relativa à dor dos órgãos viscerais
aos recetores opióides e que são referidos como convergem na mesma zona da medula espinhal
constituindo o sistema opióide endógeno. A (substância gelatinosa) onde convergem as fibras
presença deste sistema e o sistema de modulação da nervosas somáticas provenientes da periferia, e o
dor descendente (adrenérgico e serotoninérgico) encéfalo localiza a sensação de dor como se tivesse
fornece uma explicação para o sistema de origem nessa zona periférica somática em vez de no
modulação interna da dor e para a variabilidade órgão visceral. Assim sendo, a dor dos órgãos
subjetiva da dor. internos é sentida numa localização que não
constitui a fonte da dor. Este tipo de dor é chamado
Sistema nervoso inibitório descendente de dor referida.
A atividade nervosa nos nervos descendentes de
determinadas zonas do tronco cerebral (substância Reflexo espinhal autónomo
cinzenta periaquedutal, bolbo raquidiano rostral) Com frequência, a informação de dor proveniente
pode controlar a ascensão da informação dos órgãos viscerais ativa os nervos que provocam a
nociceptiva ao cérebro. A serotonina e a contração dos músculos esqueléticos e a
norepinefrina são os principais neurotransmissores vasodilatação dos vasos sanguíneos cutâneos,
desta via, podendo por conseguinte ser modulados produzindo vermelhidão nessa zona da superfície
farmacologicamente. Os inibidores seletivos de corporal.
recaptação da serotonina (ISRS) e os
antidepressivos tricíclicos (por ex. amitriptilina) Conclusão
podem então apresentar propriedades analgésicas
(Fig. 3). Os estímulos químicos ou mecânicos que ativam os
nociceptores originam sinais nervosos sentidos
como dor pelo cérebro. A investigação e a
compreensão do mecanismo básico da nocicepção e
das perceções da dor oferecem uma fundamentação
lógica para as intervenções terapêuticas e para
potenciais novos alvos de desenvolvimento de
medicamentos.
Referências
[1] Westmoreland BE, Benarroch EE, Daude JR, Reagan TJ,
Sandok BA. Medical neuroscience: an approach to anatomy,
pathology, and physiology by systems and levels. 3rd ed.
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[2] Bear MF, Connors BW, Paradiso. Neuroscience: exploring the
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[3] Melzack R, Wall P. The challenge of pain. New York: Basic
Books; 1983.