Page 34 Guia para o Tratamento da Dor em Contextos de Poucos Recursos
P. 34
18
doentes e seus terapeutas recolhem, informação são um complemento importante da
sistematicamente, informação sobre a forma como atividade terapêutica e a educação do doente é um
os eventos internos ou externos se ligam à elemento de relevo que se pode constituir como
experiência de dor e ao comportamento de dor. base para outras intervenções. Um treino
Recolhem também informação detalhada sobre os informativo bem-sucedido é o alicerce de que os
efeitos e as funções do comportamento (por doentes necessitam para selecionar e desenvolver os
exemplo, no ambiente profissional ou nas relações seus objetivos terapêuticos.
pessoais). Compreendendo estes elementos, é
possível desenvolver uma perspetiva sobre os Técnicas de relaxamento
aspetos situacionais, cognitivo-emocionais e
comportamentais que compõem a experiência de As técnicas de relaxamento são as técnicas
dor e de como estes a podem manter. Tal mais frequentemente usadas na abordagem
observação pode então ser usada para estabelecer psicológica da dor e constituem uma pedra angular
alvos para a intervenção, objetivos e definir atitudes da terapêutica cognitivo-comportamental. São
que permitam quebrar o ciclo de dor e atuar sobre eficazes porque ensinam os doentes a produzir,
as suas condições de manutenção. A auto- intencionalmente, uma resposta de relaxamento,
observação do doente, com a ajuda de diários de processo psicofisiológico que reduz o stresse e a
dor, é particularmente importante para esta análise. dor. Os exercícios de relaxamento executados
Este registo pode também constituir a base para a corretamente podem contrariar as respostas
auto-educação do doente, em particular se a sua fisiológicas de curto prazo (a nível neuronal) e
descrição incluir pressupostos gerais sobre a dor, o prevenir um circuito de feedback positivo entre a dor
prognóstico e o tratamento. e as reações de stresse, por exemplo, criando
Educar o doente com dor intencionalmente um estado afetivo positivo. À
medida que aprendem progressivamente estas
técnicas, os doentes vão tendo mais capacidade de
O medo da dor e a ansiedade ante a ideia de reconhecer a tensão interna, o que também os torna
se poder sofrer de uma doença «grave» são fatores mais conscientes das situações e das fontes de
importantes no processo de cronificação. A stresse pessoais (a nível cognitivo). Algumas
incerteza e a falta de explicações são condições que técnicas (por exemplo, o relaxamento muscular
contribuem para estas preocupações. As fantasias progressivo) criam uma melhor perceção do corpo,
relativas à presença de uma doença grave têm podendo ajudar a identificar situações de stresse.
consequências comportamentais negativas e As técnicas de relaxamento mais conhecidas
alimentam o comportamento passivo de dor. De são o relaxamento muscular progressivo de
modo a diminuir esta dúvida, os doentes devem Jacobson (RMP), o treino autogénico (TA) e outras
receber informação, utilizando-se para isso materiais técnicas que envolvem imaginação guiada,
escritos ou gráficos, ou ainda vídeos. É respiração controlada e meditação. Todas estas
particularmente importante que não seja criticado o técnicas devem ser praticadas durante algum tempo
conceito, muitas vezes simplista, de dor somática, até serem dominadas. O sucesso duradouro só
mas antes que se ampliem as conceptualizações poderá ser alcançado através de um esforço
subjetivas do doente, abrindo novas possibilidades prolongado. As técnicas de relaxamento são menos
de o envolver ativamente. Com base em informação bem-sucedidas em situações de dor aguda, sendo
de fácil compreensão acerca da fisiologia e da mais frequentemente usadas para controlar a dor
psicologia da dor, da medicina psicossomática e da crónica.
gestão do stresse, os doentes devem poder
apreender que a dor não é um fenómeno puramente Biofeedback
somático, mas que é também influenciada por
aspetos psicológicos (perceção, atenção, O biofeedback envolve a aprendizagem
pensamentos e sentimentos). Os materiais de fisiológica, medindo componentes fisiológicas da