Page 17 Volume 11, Número 1, 2003
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Dor (2003) 11
imagem corporal está pouco desenvolvido e o medo que só acreditavam que a criança tinha dor quando
da mutilação está no auge. Para elas o medo de per- esta a manifestava verbalmente e estava calma .
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der qualquer parte do corpo é ameaçadora, os seus
medos de castração dificultam ainda mais a com- 5. Avaliação da dor
preensão de procedimentos médicos / enfermagem
ligados à área genital, tais como a circuncisão e al- Um dos avanços mais importantes no estudo e tra-
galiação . Não conseguem compreender a incapaci- tamento da dor tem sido o conhecimento adquirido
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dade dos pais em acabarem o seu sofrimento, e a na forma de a medir e avaliar . Saber quantificar a
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sua separação destes agrava a intensidade da ex- dor na criança é o primeiro passo para o seu correc-
periência dolorosa . to tratamento 11,73 .
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As reacções à dor vão-se modificando durante Uma das causas apontadas para o subtratamento
este período, apresentando um crescente autocon- da dor pediátrica tem sido a dificuldade com que os
trolo enquanto experimentam dor. As reacções mais profissionais de saúde pediátricos se deparam na
frequentes são agressão física, expressão verbal e avaliação da dor experienciada pela criança 11,14,72 .
dependência . Segundo Price é importante compreender a di-
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ferença entre avaliar e medir a dor. A avaliação vai
Idade escolar para além da medição. Avaliar a dor implica descobrir
a natureza e significado da experiência dolorosa
Devido às suas habilidades cognitivas em desen- (tipo de estímulos, respostas fisiológicas, comporta-
volvimento, estas crianças têm uma noção das diferen- mentais e emocionais à dor, factores ambientais e si-
tes doenças, dos possíveis perigos dos tratamentos, tuacionais, o que nos é dito pela criança e pais, etc.).
das consequências a longo prazo de lesão permanen- A medição é a descrição quantificada da dor através
te ou perda de função e do significado da morte. Por de uma escala relacionada com a sua intensidade e
volta dos 9-10 anos, a maioria das crianças demonstra consequentes respostas comportamentais sem con-
pouco medo ou resistência manifesta à dor. Comuni- siderar outros factores da experiência dolorosa .
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cam verbalmente a sua dor e conseguem descrevê- A complexidade do fenómeno dor é um obstáculo
la. Geralmente já aprenderam alguns métodos passi- à sua avaliação em pediatria 3,73 . Analisando a defini-
vos de aliviar a dor, como permanecer de olhos ção de dor é possível verificar a dificuldade em
fechados, quietos, ou tentar agir corajosamente .
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medi-la, devido à sua natureza subjectiva e ao seu
carácter multidimensional. Trata-se de objectivar um
Adolescente
fenómeno fundamentalmente subjectivo, sujeito a
Os adolescentes pensam na doença em termos uma grande variabilidade individual, na qual a pró-
de uma alteração interna; as suas ideias sobre a fisi- pria pessoa é o seu melhor avaliador . A tudo isto,
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ologia normal e mecanismos da doença podem por acresce uma dificuldade suplementar em pediatria,
vezes nada ter a ver com a realidade . O jovem as- que está aliada ao desenvolvimento psicomotor, in-
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socia a sua dor com a sua condição e tende a consi- telectual e afectivo que se traduz em alguma incapa-
derá-la em relação às suas implicações nos seus cidade da criança comunicar a sua dor .
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objectivos de vida e actividades diárias . Isto con- A avaliação da dor é igualmente marcada por uma
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duz ao desinteresse por actividades antes desem- dupla subjectividade, de quem a sofre e de quem a
penhadas e a desenvolverem fantasias sobre a na- aprecia . De facto, a avaliação da dor sentida pela
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tureza das alterações responsáveis pelas suas dores criança está dependente de crenças, mitos e sabe-
(Anexo II). res e práticas que o prestador de cuidados tem em
As respostas da criança à dor crónica são muito relação à dor . Exemplos vulgares são que as crian-
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diferentes das respostas do organismo à dor aguda. ças dizem sempre a verdade sobre a dor e que cri-
O organismo não tem capacidade para manter, por anças sonolentas ou activas não podem estar a so-
períodos muito longos, a resposta autónoma consti- frer de dores , uma criança sedada tem menos dor 72
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tuída por aumento de tensão arterial, pulso e respi- ou que a criança que refere alívio após toma de um
ração . Por isso, ocorre uma adaptação do organis- placebo não tem uma dor real 7,72 .
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mo, podendo não se detectar alterações fisiológicas. Rundshagen, et al. , ao estudar as avaliações de
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Uma criança que desenvolveu mecanismos para li- dor feitas pelos doentes e enfermeiros, encontrou dis-
dar com a sua dor crónica pode apresentar-se cal- crepâncias importantes; os enfermeiros subestima-
ma, ter uma aparência por vezes relaxada e até ocu- vam a dor em relação aos doentes. Sjostrom, et al. ,
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pada (ver televisão, brincar, ou mesmo dormir) . ao analisar a avaliação que as enfermeiras faziam da
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Se o enfermeiro não estiver atento para as diferen- dor no pós-operatório, verificou que as mais experientes
ças existentes entre dor aguda e dor crónica, pode in- (mais de 10 anos de profissão) eram as que menos-
terpretar erradamente que a ausência de expressão de prezavam esta actividade. Jacob e Puntillo apuraram
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dor possa significar ausência de dor 7,48 . A diminuição que as enfermeiras pediátricas acreditavam que a
dos sinais observáveis de dor não significam a sua au- avaliação da dor era uma actividade fundamental
sência, por isso quando se observa uma criança não para o alívio eficaz da dor, mas na prática não o faziam.
se pode saber de imediato se está ou não a sofrer 7,71 . Os métodos que os profissionais de saúde utili-
DOR dos enfermeiros pediátricos achavam que as crian- zam para comunicar entre si a dor dificultam igual-
Num estudo desenvolvido na Finlândia, a maioria
mente a avaliação, e consequentemente o tratamen-
16 ças que dormiam não podiam estar a sentir dor e to da dor . Comunicar por escrito ou verbalmente
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