Page 22 Volume 11, Número 1, 2003
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L.M. Cunha Batalha: Os enfermeiros e a dor na criança
cia é uma regra de ouro em pediatria . Acresce, do a um cuidadoso esclarecimento da criança e
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a propósito, que a criança é quem melhor sabe pais 91,99 . A experiência acumulada com este método
avaliar a sua dor, se diz que tem é porque tem 7,89 . assegura a sua eficácia e segurança 2,91,99,109 . Uma
3. A utilização da via oral é preferível 3,11,99-102 . A via eventual sobredosagem conduz necessariamente à
de administração dos analgésicos é prescrita sedação, impossibilitando a autoadministração de
pelo médico e baseia-se na condição da crian- mais bolus de analgésico até à sua recuperação . Por
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ça e efeito desejado. A via oral apresenta a van- outro lado, os estudos desenvolvidos têm revelado que
tagem de ser indolor e de fácil administra- as crianças, tal como os adultos, administram menos
ção 91,102 . Actualmente desenvolvem-se estudos analgésicos que os profissionais de saúde 2,71,91,99 .
no sentido da administração dos analgésicos
em idade pediátrica ser feita através da muco- 3. Intervenção não farmacológica
sa oral . Por outro lado, a via intramuscular em A enfermagem é, na sua essência, uma combina-
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pediatria não garante uma absorção fiável dos ção de arte e ciência. Com o avanço científico e tec-
medicamentos, é dolorosa e acarreta uma nológico a arte de cuidar tem sido relegada para se-
grande carga ansiosa 7,92,100,103 . Eland relata gundo plano, principalmente no que diz respeito no
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que as crianças descrevem a injecção como a controlo da dor . Acções aparentemente inofensivas
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sua pior dor, e Mather e Mackie afirmam que como o mudar a almofada, pegar ao colo, olhar, es-
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as injecções são mais temidas que qualquer tar presente, falar, tocar são saberes e práticas que
outra coisa no hospital. podem conduzir de forma eficaz ao alívio da dor .
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4. A insónia deve ser rigorosamente tratada 11,41,105 A dor, como fenómeno complexo que é, envolve
– A pessoa que não dorme está mais vulnerá- várias dimensões para além da biológica, a dimen-
vel à dor . são cultural, social e psicológica, que devem ser
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5. A criança deve ser continuamente avaliada – consideradas nas intervenções cuidativas. Assim,
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É em função de uma contínua avaliação da res- há que implementar um cuidado humanizado, indivi-
posta terapêutica que se fazem os reajusta- dualizado, exclusivo, que considera a criança como
mentos nas doses, selecção dos fármacos, vias ser único e original, em que os vários saberes e prá-
alternativas de administração e/ou outras ac- ticas terapêuticas sejam complementares, articula-
ções para o alívio da dor . dos entre si e usados de forma criteriosa .
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Nos últimos anos têm ocorrido importantes avan- Entre os autores consultados várias são as explica-
ços na utilização de novos produtos analgésicos e na ções dadas para a acção terapêutica não farmacoló-
sua forma de administração . A destacar em pedia- gica no alívio da dor. À luz dos conhecimentos actuais,
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tria o creme Eutectic Mixture of Local Anesthetics todas são aceitáveis e todos os autores são unânimes
(EMLA) e a analgesia controlada pelo paciente (PCA). na importância e eficácia destas intervenções no alí-
vio da dor, pelo que deviam ser implementadas de
EMLA uma forma mais generalizada 3,11,33,48,53,50,69,75,99,110,111 .
Desde há muito tempo que são desenvolvidos esfor- Podemos agrupar as medidas terapêuticas não
ços para conceber uma preparação tópica capaz de farmacológicas em 4 grandes grupos: comunicação,
prevenir a dor na realização de procedimentos doloro- distracção, relaxamento e estimulação cutânea.
sos que envolvam agulhas e pequenas cirurgias .
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O creme EMLA permite actualmente obter uma Comunicação
anestesia local eficaz para a execução de muitos A comunicação na enfermagem pediátrica é o fun-
procedimentos até aqui geradores de dor . A sua efi- damento da relação enfermeiro-criança/pais, sendo
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cácia está comprovada 106,107 . A profundidade da um dos indicadores mais importantes na avaliação
anestesia obtida depende do tempo de aplicação, dos cuidados de enfermagem e prioritária para a
sendo aconselhado os 60-90 min . prevenção eficaz da dor .
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Os riscos adversos da sua aplicação são ligeiros e Esta relação envolve não só o conhecimento da
transitórios; contudo, nas crianças abaixo dos 3 me- criança, mas o preocupar-se com ela e com as coi-
ses, devido ao seu défice parcial de enzima redutora sas que lhe são significativas, transmitir-lhe seguran-
da metahemoglobina, aplicações repetidas podem in- ça, toda uma prática de perguntar, acreditar, aceitar,
duzir metahemoglobinémia 2,106 . Todavia, uma aplica- explicar e ensiná-la, por forma a desenvolver a sua
ção de 0,5-1 g/dia, em recém-nascidos de termo e pre- autoestima e confiança . A criança deveria poder
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maturos após a primeira semana de vida, é segura .
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escolher o seu enfermeiro, aquele com que mais de-
senvolveu um clima de confiança e amizade .
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PCA De acordo com Santos e Valente , podem ser di-
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O desenvolvimento de bombas infusoras compu- ferenciados três tipos de comunicação:
torizadas com controlo à distancia permite que seja • Funcional – Resulta da convivência diária entre
a criança a autoadministrar os analgésicos de acor- técnicos de saúde - criança - família, em que se
do com as suas necessidades. O computador per- desenvolve um clima de confiança e afecto (ní-
mite ao médico fixar as dosagens máximas e míni- vel elementar).
mas e sua frequência. •Pedagógica ou de ensino – Na qual se fornece DOR
O uso desta técnica pode ser feito por crianças a à criança - família toda a informação relativa à
partir dos 5 anos 2,99 . O seu sucesso está condiciona- sua situação de saúde. 21
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