Page 19 Volume 11, Número 1, 2003
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Dor (2003) 11
3-7 anos a criança é normalmente incapaz de sim- sos continua a traduzir-se por saberes e práticas fun-
bolizar e quantificar, o que constitui um desafio para dadas em crenças e concepções míticas que há
os profissionais de saúde . A base dos instrumentos muito a ciência já esclareceu e desmistificou 8,86 .
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usados neste estádio permitem à criança identificar Segundo McCaffery e Ferrell, os jovens antes de
os vários níveis de intensidade de dor que sente. enveredarem pela carreira de enfermagem já possu-
São exemplos: em conceitos errados sobre a dor, fruto da sua soci-
– Escala de faces 67 alização . Neste sentido, deve ser realizado um es-
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– Escala de OUCHER 70 forço adicional para inverter tal situação, caso
– Lascas de madeira 70 contrário continuaremos a assistir a diferentes mo-
– Escala das peças 83 dos de cuidar dos que sofrem com dor, dependen-
– Escala de copos 11 do dos saberes e práticas, crenças e concepções
– Escala numérica para avaliação da dor 2 de cada enfermeiro.
– Inventário de dor pediátrica 84 Orientar a prática de enfermagem, de acordo com
As crianças em idade escolar encontram-se na uma Teoria de Enfermagem, significa que subjacen-
fase das operações concretas, com capacidade te a essa prática existe uma linha condutora, susten-
para compreenderem fenómenos abstractos . Para tada por conceitos e pressupostos que definem a
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além dos instrumentos anteriores podem ser usadas: profissão, os seus objectivos e finalidades em con-
– Escalas analógicas visuais 2 gruência com um paradigma.
– Escalas de classificação numérica 70 Os paradigmas são correntes de pensamento, for-
– Questionários de dor pediátrica 85 mas de ver e compreender o mundo, que influenci-
– Desenho am o desenvolvimento dos saberes e do saber-fazer
– Diários no seio das disciplinas .
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Sob o ponto de vista do desenvolvimento cogniti- A forma como os enfermeiros conceptualizam os
vo, os adolescentes estão no estádio das operações principais centros de interesse da enfermagem (cui-
formais, pelo que usam sem dificuldade os instru- dar, pessoa, saúde e ambiente) é determinante para
mentos anteriormente referidos, ou mesmo escalas o seu enquadramento paradigmático e selecção da
criadas para adultos . Podem incluir, nas suas descri- Teoria de Enfermagem que guia a sua prática .
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ções da experiência dolorosa, factores psicológicos e Durante muito tempo a enfermagem viveu sob a
emocionais . É importante referir que os adolescentes égide de uma visão mecanicista ou biomédica. En-
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doentes podem regredir no seu desenvolvimento, costada à medicina, o objectivo da enfermagem era
pelo que é necessário uma adaptação constante promover a saúde, tratar e prevenir a doença. A pes-
dos instrumentos a usar com as suas habilidades soa era entendida como o somatório do corpo e
cognitivas, da mesma forma que se faz para as cri- mente, o ambiente como um conjunto de estímulos
anças mais pequenas (Anexo III). internos e externos que envolvem a pessoa, e a saú-
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A utilização destes e outros instrumentos permite de como um processo dinâmico de bem-estar físico
aos enfermeiros planear e avaliar a eficácia das suas e mental que pode ser melhorado pela manipulação
intervenções no alívio da dor, reduzir a influência de do ambiente, com a finalidade de estabelecer um
opiniões, crenças e saberes e práticas de alguns equilíbrio de adaptação. O enfermeiro intervém a tí-
profissionais nessa mesma avaliação, e permitir às tulo de conselheiro ou perito. Esta forma de conce-
crianças tornarem-se as peritas na avaliação da sua ber a enfermagem ainda predomina e insere-se no
própria dor . paradigma da totalidade .
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Todavia, os enfermeiros precisam de desenvolver Contudo, e segundo a mesma autora, emerge um
estratégias e perícia no campo da selecção dos ins- novo paradigma: o da simultaneidade. A essência da
trumentos mais indicados, feita em função duma mul- enfermagem centra-se numa visão holística do cuidar.
tiplicidade de factores. Só assim se conseguirá a de- A pessoa é vista como mais do que o somatório de
finição de objectivos mensuráveis e a implementação partes, como um ser aberto livre de escolher o seu ca-
dum plano de cuidados pertinente e adequado . minho, que dá sentido às situações vividas e é res-
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ponsável. Está em permanente mudança, fruto da in-
Capítulo II – A expressão do cuidado à criança teracção mútua e simultânea com o mundo que a
com dor e sua família rodeia. Importa sublinhar que a noção de pessoa é
alargada, englobando a família, grupo e comunidade .
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Este capítulo situa-nos no paradigma da simulta- A saúde é entendida como um processo em desen-
neidade na orientação das intervenções de enferma- volvimento, uma experiência pessoal de vida que de-
gem no cuidado à criança com dor e sua família. pende da prioridade dos valores de cada um. É um
Apresenta as intervenções cuidativas farmacoló- bem-estar e de realização do seu potencial de criação.
gicas e não farmacológicas, desmonta os principais Ambiente é uma parte do universo da qual a pessoa
mitos e crenças e descreve novas abordagens no faz parte, e que se caracteriza pela sua constante mu-
alívio da dor pediátrica. dança com ritmo próprio e orientação imprevisível, fru-
to da interacção mútua e simultânea com a pessoa .
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1. Teorias de suporte no cuidar O cuidar visa manter o bem-estar definido por
DOR mais recursos e métodos para aliviar a dor dos que cada pessoa. A enfermeira mobiliza todos os seus
Hoje em dia os enfermeiros têm ao seu dispor
saberes em prol da qualidade de vida, segundo a
18 sofrem. Todavia, a gestão destes métodos e recur- perspectiva pessoal de cada um, acompanhando as
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