Page 24 Volume 11, Número 1, 2003
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L.M. Cunha Batalha: Os enfermeiros e a dor na criança
de distracção são particularmente úteis na dor ligei- ração superficial quando a dor atinge o seu má-
ra/moderada, embora ineficazes na dor grave uma ximo. É indicada em situações de dor aguda.
vez que o estímulo doloroso impede o desvio da con- • Sugestão consciente – Consiste em induzir
centração da criança para outras acções . Importa um estado de relaxamento através de perguntas
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realçar que, para além das técnicas de distracção, fechadas, simples, curtas e que impliquem uma
são importantes e complementares outras medidas resposta positiva.
para o alívio da dor tais como as farmacológicas. • Hipnose – Segundo Kolkmeir, “é a alteração do
Brincar é um dos aspectos mais importantes na estado de consciência que pode ser induzido
vida de uma criança e um dos instrumentos mais efi- por um facilitador com o fim de mudar a percep-
cazes para lhe diminuir a ansiedade . Não esque- ção, memória ou sensação do indivíduo” . Hip-
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cer os brinquedos preferidos e evolver os educado- notizada, a pessoa fica menos crítica em rela-
res de infância quando possível. ção ao meio que a rodeia, promovendo desta
A distracção pode servir não apenas para diminuir forma o relaxamento.
a percepção da dor, mas também para melhorar a • Biofeed-back – Consiste num programa de
disposição da criança dando-lhe um sentimento de treino onde as pessoas são preparadas a utilizar
controlo sobre a situação . o feed-back fisiológico (ritmo cardíaco, tensão
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arterial, electromiografia) para terem um contro-
Relaxamento lo sobre as funções involuntárias. É útil nas ce-
faleias por hipertensão e dores crónicas.
McCaffery e Beebe (citado por Carr) definem re- Independentemente da técnica utilizada, o relaxa-
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laxamento como um estado de relativa libertação de mento diminui o metabolismo, o consumo de energia,
ansiedade e de tensão esqueletomuscular. oxigénio, baixa a frequência cardíaca e respiratória,
As técnicas de relaxamento visam reduzir a ten- a hipertensão arterial nos hipertensos e produz uma
são muscular resultante do esforço desenvolvido sensação de calma, tranquilidade e bem-estar .
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pela pessoa, no sentido de ultrapassar a situação de Por estas razões, o relaxamento está indicado na
dor. Esta redução da tensão contribui para o alívio da dor aguda, nos espasmos musculares, ansiedade,
tensão emocional, o que baixa o nível de ansiedade, insónias e dor crónica ligeira ou moderada, uma vez
aumentando, assim, a tolerância à dor . Para este que diminui a fadiga, melhora o sono, desvia a aten-
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autor, são técnicas que não exigem treino específico, ção da dor e torna a criança mais autónoma para a
mas requerem a participação activa da pessoa para enfrentar, acreditando nas suas potencialidades 11,75 .
serem eficazes (não se pode forçar o relaxamento). São muitas as técnicas usadas no alívio da tensão
As técnicas a usar devem ser adaptadas a cada musculoesquelética, desde as mais complexas às
pessoa (uso criterioso) para aumentarem a sua pro- mais simples (mudar de posição, embalar, e outras),
babilidade de sucesso. Nem sempre como seria de todas visam o alívio da dor. Para a sua eficácia é ne-
desejar conduzem ao alívio da dor, mas reduzem a cessário a colaboração da criança e família, pelo
ansiedade do utente potenciando a acção de outras que devem ser ouvidos na escolha do método. Só por
medidas associadas. si podem ser técnicas insuficientes, mas usadas como
Reis descreve duas técnicas de relaxamento mui- complemento de outras são valiosas no alívio da dor.
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to utilizadas:
• Relaxamento autogeno – Estado de auto- Estimulação cutânea
concentração (autohipnose) que se compõe de
seis exercícios de base: A estimulação da pele e tecidos subcutâneos
1. Indução à calma (“eu estou calmo, cada vez pode ser feita por variados meios:
mais calmo”). • Calor – A sua aplicação na zona de dor promo-
2. Experiência de peso/suavidade. ve a circulação sanguínea, ajudando a eliminar
3. Experiência de calor. os produtos de degradação metabólica que de-
4. Controlo dos batimentos cardíacos. sencadeiam o processo nociceptivo. É útil nas
5. Controlo dos batimentos respiratórios. dores musculares 11,53 .
6. Frescura da testa. • Frio – Tem um efeito contrário ao do calor, dimi-
• Relaxamento progressivo – Consiste em nui a circulação periférica, o que favorece a re-
relaxar progressivamente um a um todos os dução do edema ou o seu aparecimento, alivi-
grandes grupos musculares, até ao relaxamen- ando a pressão exercida nas terminações
to total do corpo, através do contraste das per- nervosas. Por outro lado, o frio retarda a trans-
cepções sentidas entre uma contracção muscu- missão dos impulsos nervosos ao nível dos re-
lar e a sua descontracção. Segundo Jacobson ceptores, o que favorece o alívio da dor .
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(citado por Carr) , a ansiedade e o relaxamento • Massagem – Promove a circulação, facilitando
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muscular produzem estados fisiológicos opos- a remoção dos produtos de degradação celular.
tos, pelo que não podem coexistir em conjunto. Ao estimularem igualmente as fibras de grande
Du Gas e Carr fazem referência a outras técni- diâmetro dos aferentes primários fecha o portão
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cas de relaxamento: e consequentemente alivia a dor .
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• Respiração profunda – Consiste em inspira- • Toque – Não estão perfeitamente conhecidas DOR
ções e expirações profundas e lentas à medida as razões do seu sucesso . Pode e deve ser
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que a dor aumenta de intensidade, até à respi- usada concomitantemente com outras técnicas, 23
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