Page 23 Volume 11, Número 1, 2003
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Dor (2003) 11
• Terapêutica (relação de ajuda) – que visa conduzir siná-los a uma presença de qualidade 6,114 . Com ori-
criança e família para a autonomia (desenvolvi- entação e um mínimo de apoio, a maioria dos pais
mento das suas capacidades reais e potenciais). constitui uma força estabilizadora, mesmo nas situa-
A comunicação envolve o respeito pela individu- ções mais ameaçadoras . Para as crianças os pais
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alidade da pessoa, a confiança mútua, empatia e são o garante da protecção, confiança, amor e cari-
escuta, sendo habilidades fundamentais para com- nho, pelo que uma presença de qualidade passa por
preender o fenómeno dor . pequenas coisas como tocar, falar, deixar chorar
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Hayward, citado por Carr , demonstrou que a in- (não reprimir), ser honesto (não mentir) e ajudar a su-
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formação dada no pré-operatório reduz a dor no portar os procedimentos dolorosos 112,114 . Importa sali-
pós-operatório. Segundo Santos e Valente , a edu- entar que os pais não devem ser envolvidos na imobi-
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cação sobre a natureza e a experiência dolorosa lização dos filhos durante os procedimentos dolorosos;
iminente e as medidas a tomar no seu alívio reduzem a criança fica confusa acerca do seu papel 114,115 .
os níveis de ansiedade e medo, pelo que a criança A propósito do envolvimento dos pais nos cuida-
enfrenta melhor a dor. A este propósito, McVicar e dos à criança com dor, Salantera inquiriu enfermei-
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Clancy distinguem informação sensorial (sensa- ras pediátricas, das quais 97% achavam que os pais
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ções e sentimentos da dor esperada) e a informação deveriam ser participantes activos. Este facto con-
relativa aos procedimentos, e afirmam que ambas traria outros estudos em que os pais são excluídos
contribuem para diminuir a ansiedade da pessoa, dos cuidados . Num outro estudo, 99% das crian-
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pela modificação das suas expectativas. ças afirmaram que aquilo que mais as ajudava quan-
A relação de confiança que se estabelece duran- do sentiam dor era a presença da mãe .
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te o processo de ensino à criança e família leva a As técnicas usadas para confortar as crianças de-
que estes acreditem que se encontra ali alguém que vem estar directamente relacionadas com o seu es-
os compreende e escuta. Esta atitude transmite se- tádio de desenvolvimento . Para os mais pequenos
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gurança, tranquilidade e, sobretudo, faz com que é importante o embalar, acariciar, falar, mudar a fral-
acreditem no enfermeiro. Esta é a explicação para o da, cantar, contar uma história, brincar, etc. 15,114 . Às
sucesso terapêutico dos placebos 48,113 . crianças em idade escolar e adolescentes, pergun-
Pais e crianças receosos beneficiam com um tar o que os poderia ajudar é de capital importância,
simples processo de informação . Para este mes- pois adoptam inúmeras estratégias específicas .
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mo autor, a utilização de uma comunicação analógi- Em resumo, diremos que a comunicação desem-
ca através do jogo, actividades lúdicas (histórias, penha um papel fundamental no alívio da dor. O en-
pinturas, desenhos ou colagens) e actividades esco- fermeiro deve estar habilitado a criar um clima de
lares facilitam em pediatria a compreensão das men- confiança, empatia, escuta, respeito pelas opções
sagens que se pretendem transmitir à criança. da criança e família, informar com honestidade e
Du Gas reforça a ideia de que ir falando com a cri- ensinar técnicas de alívio da dor e a uma presença
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ança ao longo dos procedimentos dolorosos aumenta de qualidade dos pais quando o seu filho é sujeito a
a tolerância à dor. O mesmo acontece quando a cri- procedimentos dolorosos.
ança tem oportunidade de participar no seu tratamen-
to, valorizando positivamente a sua participação. Distracção
A informação, ao contribuir para desmistificar fan-
tasias incorrectas relativas à percepção da dor, con- A distracção consiste em desviar a atenção da
tribui para o seu alívio . É de realçar a importância sensação dolorosa. O tronco cerebral, ao ser inun-
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da linguagem ser adequada ao estádio de desenvol- dado de estímulos sensitivos agradáveis, diminui a
vimento da criança, pois a impossibilidade de codi- percepção aos estímulos dolorosos (princípio da
ficação da mensagem provoca ansiedade. Deve-se inundação sensorial). Por outro lado, a concentração
evitar comunicar negativamente utilizando palavras da criança em estímulos agradáveis facilita a liberta-
susceptíveis de criar angústia como “infectado”, ção de neuromoduladores endógenos que bloque-
“sujo”. Enfatizar, sim, aspectos positivos como “vais iam a percepção da dor 38,48 .
fazer o penso para que a tua ferida cicatrize”, “quan- Segundo Du Gas , as técnicas de distracção po-
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do te doer podes pedir para parar”. dem ser:
A presença e participação dos pais nos cuidados • Levar a criança a falar de experiências vivencia-
à criança é outro aspecto que não pode ser esque- das recentemente (jogo de futebol, filmes), pedir
cido em pediatria. Os pais são o canal de comunica- para jogar um jogo, contar uma história, cantar.
ção perfeito para a compreensão, avaliação da dor • Ensinar técnicas de escuta atenta (bater ritmica-
e o seu controlo 11,90,101,114 . mente com as mãos e os pés a acompanhar
A esmagadora maioria dos pais prefere estar pre- uma música, fechar os olhos, concentrar-se
sente quando os seus filhos são sujeitos a procedi- numa melodia, etc.).
mentos médicos dolorosos e os seus filhos desejam • Exercícios respiratórios lentos e rítmicos (fazer
essa presença . Obviamente, que a presença por bolas de sabão).
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si só não é suficiente para uma gestão eficaz da dor •Realizar outras actividades tais como ver televi-
e nem sempre os pais são competentes para uma são, modelagem, pintura, picotagem, falar com
DOR presença de qualidade . O alívio da dor aumenta na proporção directa da
outras pessoas, ouvir música, etc.
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O primeiro passo a tomar pelos profissionais de
22 saúde é negociar a presença dos pais, e depois en- participação activa da criança . Assim, as técnicas
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