Page 27 Volume 11, Número 1, 2003
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Dor (2003) 11
saberes e práticas de cuidados perante a dor na cri- foram analisadas quanto à sua abrangência, redun-
ança (avalia os saberes e práticas de cuidados dos dância e clareza, e sucessivamente melhoradas.
enfermeiros); questões relativas à autoavaliação Posteriormente, foram aplicadas a enfermeiros de
dos enfermeiros sobre os seus conhecimentos da dor forma sucessiva até à ausência de relatos de dificul-
pediátrica, e questões que fazem a caracterização dades na sua aplicação.
sociodemográfica dos inquiridos. A validade de construção que visa saber se o pa-
radigma teórico corresponde às observações foi re-
Escala de saberes e práticas de cuidados perante alizada através de análise factorial, após aplicação
a dor na criança da escala a 198 enfermeiros que frequentavam o
Curso de Complemento de Formação em Enferma-
Um instrumento de medida só serve para o fim a gem em Julho de 2000 na Escola Superior de Enfer-
que se destina se rigoroso nos valores que atribui, magem de Bissaya Barreto.
adequado à medição do que se pretende e confiá- A análise factorial consiste num conjunto de técni-
vel uma vez após a outra . cas estatísticas que permitem reduzir um conjunto
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Baseado na experiência pessoal e apurada revi- inicial de itens num menor número de itens, sem que
são bibliográfica sobre a dor pediátrica, elaboramos haja perda significativa da informação contida nesse
uma vasta gama de asserções (63 itens), segundo 7 conjunto. O seu principal objectivo é representar um
dimensões teóricas: conceito de dor; tipos de dor conjunto de itens através de um menor número de
que requerem tratamento; tolerância à dor; manifesta- factores (dimensões) que poderão dar conta da mai-
ções de dor; avaliação da dor; factores que influenci- or covariação dos itens observados. Estas dimen-
am a sensação dolorosa, e cuidados farmacológicos sões resultam da combinação linear dos itens obser-
e não farmacológicos. Estes itens traduzem saberes vados, permitindo dar sentido a essas combinações.
e práticas (mitos, crenças e saberes dos enfermei- A análise factorial pode ser exploratória quando pre-
ros) nos cuidados à criança com dor e sua família. tende reduzir a dimensão dos dados iniciais ou força-
Fizemos constar asserções redigidas na positiva e da para reduzir os dados às dimensões pretendidas .
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na negativa em número equivalente, para minimizar No nosso caso foi utilizada a análise factorial ex-
a tendência do inquirido responder predominante- ploratória (livre) de componentes principais com ro-
mente num determinado sentido (favorável ou desfa- tação ortogonal segundo o método Varimax. Este
vorável), independentemente do conteúdo da pre- método permite maximizar as saturações de alguns
posição . Quando redigidas em sentido negativo, itens, que podem ser utilizados para compreender o
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para o efeito de obtenção de pontuação numa esca- significado do factor .
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la, carecem de inversão na sua pontuação. Efectuada a análise factorial exploratória com ro-
As asserções foram medidas segundo uma esca- tação de Varimax e carga de saturação superior a
la tipo Likert de acordo com o estudo realizado por 0,30, dos 63 itens iniciais foram seleccionados 25,
Salantera : que se agruparam em 6 dimensões e explicam uma
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0 – Discordo variância total de 56,53%.
1 – Discordo parcialmente O factor 1, que explica 11,46% da variância total
2 – Indeciso após rotação, corresponde à dimensão reconheci-
3 – Concordo parcialmente mento da dor. O factor 2 explica 10,37% da vari-
4 – Concordo ância total e corresponde à dimensão cuidados
Numerosos estudos fazem uso deste tipo de esca- farmacológicos. O factor 3 explica 9,96% da vari-
la, porque viabiliza que a partir de dados medidos a abilidade e corresponde à dimensão cuidados não
nível ordinal em cada item se obtenham pontuações farmacológicos. O factor 4 explica 8,67% da va-
globais passíveis de serem tratados estatisticamen- riância e corresponde à dimensão conceito de dor.
te ao nível intervalar 119,120 . O factor 5 explica 8,34% da variância total e corres-
Em investigação, quando se deseja medir determi- ponde à dimensão tolerância à dor. Por último, o
nado atributo utilizam-se escalas que consubstanciem factor 6 explica 7,73% da variância e corresponde à
os requisitos pretendidos. Para o conseguir e confirmar dimensão avaliação da dor (Anexo IV).
torna-se imprescindível proceder à sua construção e A estrutura factorial encontrada ajusta-se à orga-
determinação da sua validade e fidedignidade. nização racional inicialmente definida com base na
A validade de um instrumento de medida é o grau revisão bibliográfica. Apenas a dimensão reconhe-
ou a capacidade do instrumento medir aquilo a que cimento da dor não foi inicialmente prevista, em-
se supõe medir e na dimensão para que foi constru- bora reconsiderando a natureza conceptual dos
ído , podendo ser realizada segundo vários méto- seus itens, formámos esta nova dimensão que deri-
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dos, validade de conteúdo (itens representativos da va da dimensão avaliação da dor.
variável em estudo), validade de construção (análi- A maioria dos itens saturam fortemente nas res-
se factorial) e validade de critério (correlação entre pectivas dimensões (carga factorial >0,30). A menor
o instrumento e um instrumento critério) . carga factorial é de 0,421 para o item 05.
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A validade de conteúdo, que se refere à represen- O item 05, a criança queimada precisa de um
tatividade do instrumento relativamente ao atributo a analgésico antes da realização de um penso, apesar
DOR ser medido, foi averiguada com recurso à opinião de de saturar mais fortemente no factor 2 (0,421), op-
tou-se pela sua inclusão no factor 6 avaliação da
enfermeiros especialistas em saúde infantil e pediá-
26 trica com larga experiência na área. As asserções dor (0,363), pois a sua natureza conceptual coinci-
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