Page 30 Volume 11, Número 1, 2003
P. 30



L.M. Cunha Batalha: Os enfermeiros e a dor na criança
ança e desta ser influenciada pelo prolongamento do lativamente ao cientificamente preconizado. Global-
estímulo doloroso. Não considerarem como bons do- mente, os resultados são animadores, pois só 2,4%
entes as crianças que demonstram capacidade de dos enfermeiros não atingiu o mínimo de 50 pontos
sofrimento (73,6%) e escolhem preferencialmente a na escala (Anexo XX).
via oral no alívio da dor intensa (74,8) (Anexo XIV).
Perante uma criança calma ou que chora e que diz 2. Variáveis sociodemográficas, autoavaliação
ter dor os enfermeiros acreditam nessa dor (51,2 e e saberes e práticas de cuidados
45,2%, respectivamente). Concordam parcialmente
com o facto da criança dizer sempre a verdade acer- Estudo correlacional
ca da sua dor (44,0%) e mostram-se divididos quanto Correlacionadas as variáveis idade, tempo de exer-
ao facto das respostas de dor na criança depende- cício profissional e tempo de exercício em serviços pe-
rem do seu desenvolvimento cognitivo (Anexo XV). diátricos com a variável saberes e práticas de cuida-
Os enfermeiros parecem não ter dúvidas quanto dos perante a dor na criança, apenas o tempo de
ao facto de uma criança queimada necessitar de exercício profissional revelou uma associação positiva
analgésicos antes de realizar um penso (91,6%). A e estatisticamente significativa com as saberes e práti-
maioria discorda ou discorda parcialmente que uma cas de cuidados (r = 0,150; p = 0,018) (Anexo XXI).
criança sedada sente menos dor (35,2 e 23,2%). Ao associarmos a autoavaliação que os enfermei-
Quase metade dos enfermeiros acreditam que uma ros fazem dos seus conhecimentos sobre a dor pe-
criança deprimida ou ansiosa sente realmente dor diátrica com os seus saberes e práticas de cuidados
(47,2). Contudo, para aquelas que tiram proveito da perante a dor na criança, apurámos pelo coeficiente
dor (brinquedos, atenção, etc.), apenas 3,2% dos de correlação de Pearson uma associação positiva
enfermeiros acham, sem reservas, que sentem ver- estatisticamente significativa (r = 0,347; p = 0,000).
dadeiramente dor (Anexo XVI). Ou seja, quanto melhor é a autoavaliação do conhe-
A esmagadora maioria dos enfermeiros discorda cimento, melhor são os seus saberes e práticas de
que os analgésicos devam ser reservados para a cuidados. A variação nos saberes e práticas de cui-
dor intensa (82,0%) e crêem que nem só os narcóti- dados destes enfermeiros é explicada em 12,04%
cos são eficazes no alívio da dor (82,4%). Uma gran- pela variável conhecimento (r = 0,1204) (Anexo XXII).
2
de percentagem julga que a morfina não é um medi-
camento de último recurso (42,8%). Cerca de 34,8%
dos enfermeiros acha que as crianças não são mais Estudo da análise da variância
sensíveis aos efeitos depressores respiratórios da Os resultados na comparação de médias dos sabe-
morfina que os adultos e 26,8% mostrou-se indeciso. res e práticas de cuidados através do teste T de Stu-
Maioritariamente (54,8%) discordam que a morfina dent não indicou diferenças estatisticamente significa-
cause dependência na criança com mais facilidade tivas entre o sexo masculino e feminino (p = 0,076), e o
que no adulto, embora quase _ manifeste dúvidas facto dos enfermeiros terem ou não passado por expe-
(Anexo XVII). riências dolorosas significativas (p = 0,555).
Cerca de 84,8% dos enfermeiros julga que o alívio Porém, foram apuradas diferenças estatisticamen-
da dor não é igual para todas as crianças. Maiorita- te significativas entre os enfermeiros que frequenta-
riamente consideram que a música ou o simples fac- ram acções de formação sobre dor e os que não fre-
to de demonstrar que acreditam na dor da criança, quentaram, tendo os primeiros obtido pontuações
isso contribui para o seu alívio. Mostram-se indeci- mais elevadas na escala de saberes e práticas cuida-
sos quanto ao papel da privação sensorial ambiente tivas (p = 0,000). Os enfermeiros de nível II revelaram
(14,4%), porém quase metade concorda ou concor- muito melhores saberes e práticas de cuidados relati-
da parcialmente com o facto do isolamento e escuri- vamente aos de nível I (p = 0,000). Os enfermeiros
dão aumentarem a sensação de dor (24,4 e 23,6%) que detinham uma especialidade também obtiveram
(Anexo XVIII). pontuações muito mais elevadas (p = 0,000). Por últi-
Analisando os saberes e práticas de cuidados dos mo, entre os enfermeiros detentores de uma especia-
enfermeiros por cada dimensão da escala, verifica- lidade foram os especialistas em enfermagem de saú-
se que as maiores pontuações médias foram obser- de infantil e pediátrica que conseguiram resultados
vadas nas dimensões relativas ao conceito de dor significativamente melhores (p = 0,002) (Anexo XXIII).
(78,25) e cuidados farmacológicos (77,08), sendo as Uma vez que os enfermeiros que participaram no
dimensões menos pontuadas as relacionadas com o estudo trabalhavam em três hospitais diferentes pre-
reconhecimento e avaliação da dor (61,25 e 69,43, tendemos comparar através do teste ANOVA as mé-
respectivamente). dias dos saberes e práticas de cuidados dos enfer-
Globalmente, as pontuações obtidas variaram en- meiros entre esses hospitais. Dos resultados
tre um mínimo 39,58 e um máximo de 95,83 com apurámos diferenças estatisticamente significativas
uma média de 72,17 e uma dispersão em torno des- (F = 18,913; p = 0,000).
A análise Post Hoc pelo teste Bonferroni revelou
se valor de 9,9 pontos (Anexo XIX). (2,247)
A análise do gráfico 3 revela claramente que são que essas diferenças de médias eram significativas
nas dimensões reconhecimento da dor (32,4%), ava- entre todos os três hospitais. Entre o HP e o HV (dif.
liação da dor (21,2%) e tolerância à dor (16,8%) da média 8,90803; p = 0,000), entre o HP e HL (dif. mé- DOR
escala de saberes e práticas, que os enfermeiros dia 4,2607; p = 0,014), e, finalmente, entre o HL e HV
mostram maiores dificuldades ou desfasamentos re- (dif. média 4,7196; p = 0,030) (Anexo XXIV). 29
   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34   35