Page 23 Volume 13 - N.1 - 2005
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Dor (2005) 13
Dor (2005) 13

Enxaqueca
Tratamento



Maria Manuela Palmeira





O tratamento da enxaqueca tem por objectivo O tratamento farmacológico pode ser sintomá-
eliminar a dor e os sintomas associados durante tico e/ou profiláctico.
a crise, impedir a ocorrência de novas crises ou O tratamento sintomático utiliza-se isolado
diminuir a sua frequência e melhorar a qualidade nos caso em que as crises são leves a mode-
de vida dos doentes. radas, muito pouco frequentes e quase nada
São opções terapêuticas e as estratégias de incapacitantes. Normalmente, utiliza-se asso-
acção corrigir os factores desencadeantes, tra- ciado ao tratamento profiláctico no caso de cri-
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tar e evitar o aparecimento das crises . ses moderadas a severas, e com grande impac-
Antes de qualquer atitude terapêutica especí- to na qualidade de vida do doente. A escolha
fica devemos iniciar o tratamento com medidas do tratamento depende não só do tipo e inten-
gerais que consistem em tranquilizar o doente, sidade da enxaqueca mas também dos sinto-
esclarecê-lo sobre a benignidade da sua doen- mas e doenças associadas.
ça, identificar factores desencadeantes e agra- O tratamento sintomático deve ser de acção
vantes, ajudar a eliminá-los, e discutir as opções rápida (idealmente devia actuar e reverter a si-
terapêuticas, evitando a automedicação e o abu- tuação em menos de duas horas) ter escassos
so medicamentoso. efeitos secundários, ser bem tolerado pelo do-
Dentro dos factores desencadeantes, o doen- ente e preferencialmente poder ser ministrado
te pode ter que se abster da ingestão de bebi- por via oral embora habitualmente a enxaqueca
das alcoólicas, de alguns alimentos como cho- se acompanhe de estase gástrica o que obriga
colate, queijo, frutos secos, citrinos e outros, por ao uso de um procinético (metoclopramida ou a
ser sensível aos mesmos e estes serem factores domperidona).
precipitantes das crises. Devemos recomendar Se as crises são leves a moderadas, são
que dentro do possível tenha um sono regular tratadas com fármacos inespecíficos. Os anal-
evitando a privação ou o excesso, o que junta- gésicos habitualmente usados são o parace-
mente com as irregularidades de alimentação tamol (500 a 1.000 mg), o ácido acetilsalicílico
podem constituir um factor desencadeante de (500 a 1.000 mg), o acetilsalicilato de lisina
enxaqueca. O «stress», os anticonceptivos orais (500 a 1.000 mg) ou qualquer um dos anti-in-
e outros fármacos como os vasodilatadores, se flamatórios não esteróides, como o ácido me-
forem claramente identificados como precipitan- fenâmico (240-720 mg), o cetoprofeno (100-
tes de crises, devem ser se possível proscri- 200 mg), o diclofenac (50 a 100 mg), o
tos. ibuprofeno (400 a 800 mg), a indometacina
O tratamento não farmacológico consiste na (25 a 50 mg) e o naproxeno (250 a 500 mg).
utilização de técnicas específicas de relaxamen- A escolha de um ou de outro depende da
to, ou de retrocontrolo biológico (biofeedback), idade e da patologia acompanhante do doen-
a psicoterapia, a acupunctura e ainda as técni- te a tratar. Se os vómitos constituírem uma quei-
cas cognitivo comportamentais (com ou sem xa muito importante e difícil de tratar, para além
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relaxamento). As técnicas de relaxamento e o da metoclopramida e da domperidona, poder-
biofeedback conseguem uma melhoria em cer- se-á recorrer às fenotiazinas e de entre estas à
ca de 50% dos casos, sobretudo quando asso- cloropromazina ou à prometazina. Dos anti-infla-
ciadas, e a eficácia pode manter-se durante matórios não há preferência pré-estabelecida
meses . A acupunctura como tratamento não por um ou por outro dependendo do doente e
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farmacológico tem vindo a ser referida como da prática do clínico. Aos doentes deve ser fe-
eficaz no tratamento da enxaqueca. Em 2001, rido que o uso crónico de analgésicos (mais de
uma revisão da Cochrane concluiu que este mé- duas vezes por semana) pode originar um agra-
todo de tratamento era eficaz. Mais recentemen- vamento da cefaleia e desencadear o apareci-
te, outros trabalhos não têm subscrito aquela mento da cefaleia medicamentosa para além de
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conclusão . outras complicações.
Nas crianças com menos de 15 anos reco-
DOR mendamos o uso do paracetamol, pelo risco da
associação do ácido acetilsalicílico e do acetil-
22 Centro Hospitalar da Cova da Beira, SA salicilato de lisina com a síndrome de Reye .
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Covilhã, Portugal
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